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Saúde

Setembro Amarelo estimula o diálogo sobre prevenção ao suicídio

Iniciado no Brasil pelo CVV (Centro de Valorização da Vida)CFM (Conselho Federal de Medicina)ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), o Setembro Amarelo estimula a divulgação de prevenção ao suicídio e valorização da vida. Pelos números oficiais, são 32 brasileiros mortos por dia, taxa superior às vítimas da AIDS e da maioria dos tipos de câncer.

Desde 2012 a taxa de suicídio em brasileiros de 15 a 29 anos subiu quase 10% de acordo com a edição de 2010 do Mapa da Violência, feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Anualmente, estima-se que mais de 800 mil pessoas morrem no mundo por suicídio, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Entre os jovens de 15 a 29 anos, é a segunda principal causa de morte. No Brasil, entre 2011 e 2016, observou-se aumento dos casos notificados de lesão autoprovocada nos sexos feminino e masculino de 209,5% e 194,7%, respectivamente.

Tem sido um mal silencioso, pois as pessoas fogem do assunto e, por medo ou desconhecimento, não veem os sinais de que uma pessoa próxima está com ideias suicidas. A esperança é o fato de que, segundo a OMS, 9 em cada 10 casos poderiam ser prevenidos. É necessário a pessoa buscar ajuda e atenção de quem está à sua volta.

Em Petrópolis, o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) é o primeiro contato para pacientes que desejam buscar tratamento. Lá, a equipe avalia o caso e faz o encaminhamento para o especialista. A Secretaria de Saúde está promovendo, este mês, ações internas, com conscientização das equipes no atendimento dos casos.

O CAPS fica na Rua Montecaseros, 576- Centro. O telefone é (24) 2246-9064 e o horário de funcionamento é de segunda a sexta-feira, de 9h às 17h. Em Itaipava, o Caps Nubia Helena Dos Santos fica na Rua Maria Joaquina Félix Almeida, 70. Já o Centro de Atenção Psicossocial Infanto Juvenil (CAPSI), fica na Rua Marechal Floriano Peixoto, 418 – Centro. O telefone é (24) 2247-6893.

Ligação para prevenção ao suicídio é gratuita em todo o país

As ligações para o Centro de Valorização da Vida (CVV), que auxilia na prevenção do suicídio, são gratuitas em todo o país. Um acordo de cooperação técnica com o Ministério da Saúde, assinado em 2017, permitiu o acesso gratuito ao serviço, prestado pelo telefone 188. O número presta serviço durante 24 horas por dia, gratuitamente, de qualquer estado brasileiro. Também é possível entrar em contato pelo chat ou e-mail, que estão disponíveis no site www.cvv.org.br.

Por meio do número, pessoas que sofrem de ansiedade, depressão ou que correm risco de cometer suicídio conversam com voluntários da instituição e são aconselhados.

Crédito: reprodução TV Gazeta

Estudos apontam risco e impacto positivo entre tecnologia e suicídio

O crescimento das estatísticas de atos e tentativas de suicídio e autolesão nos últimos anos coincidiu com o crescimento do uso de tecnologias digitais como smartphones, computadores e acesso à internet. Os indícios de possíveis prejuízos à saúde mental de crianças e jovens pela forte inclusão desses equipamentos ao cotidiano de meninos e meninas motivaram muitos pesquisadores a buscar a existência de uma relação direta entre um fenômeno e outro.

Parte das pesquisas identificou riscos no uso de tecnologias digitais, especialmente de maneira intensa. No âmbito dos impactos mais gerais na saúde mental, artigo de acadêmicos da Universidade de San Diego, nos Estados Unidos, publicado neste ano, sinalizou que adolescentes mais expostos aos dispositivos eletrônicos (como computador, celulares e videogames) manifestaram menores níveis de autoestima, satisfação com a vida e felicidade.

Na relação entre hábitos de consumo de dispositivos técnicos e comportamento suicida, também há pesquisas indicando possível vínculo entre essas duas condutas. Estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Oxford, publicado no ano passado, mapeou trabalhos acadêmicos e levantamentos focados em identificar o estímulo a práticas de autolesão por diversas formas de atividades online, como navegação em geral, tempo gasto em redes sociais, tratamento de saúde pela web, visitação de sites sobre suicídio, compartilhamento de imagens e vídeos sobre a prática e textos divulgados em blogs.

“A relação entre uso da internet e comportamento suicida e de autolesão foi particularmente associado ao vício no acesso a essa tecnologia, altos índices de navegação e contato com sites onde havia conteúdo relacionado ao tema”, afirmaram os pesquisadores no artigo.

Pesquisadores da Universidade de Swansea, no Reino Unido, investigaram o estímulo a esses comportamentos a partir de práticas de constrangimento e assédio contra jovens em redes sociais e usando tecnologias, chamadas em inglês de cyberbullying. Em trabalho publicado neste ano, a equipe encontrou evidências de influências negativas em 75% dos 33 estudos acadêmicos analisados. A partir dos diversos artigos, os autores chegaram a um índice segundo o qual vítimas de cyberbullying teriam 2,1 chances de exibir um comportamento suicida e 2,6 vezes mais chances de cometer algum ato no sentido de tirar a própria vida.

Na avaliação dos pesquisadores, a possibilidade de assédio por meio de comunicações eletrônicas mudou a forma dessa prática. “Indivíduos que, no mundo não virtual, tinham poucas chances de serem vitimizados à medida que tinham condição de responder em pessoa podem estar mais vulneráveis online onde os perpetradores podem não estar identificados e ficam encorajados de uma maneira que não estariam no contato face a face”, comentam no texto.

Contudo, há também diversos estudos que identificam efeitos positivos do uso de dispositivos eletrônicos no combate e na prevenção de condutas suicidas. Trabalhos acadêmicos indicaram distintos recursos tecnológicos que podem auxiliar pessoas nessas situações, como fóruns de discussão, tratamentos online e busca de informações na internet.

Investigadores da Universidade de Melbourne, na Austrália, criaram um sistema de monitoramento de sintomas de depressão e o aplicaram a pacientes. Os resultados do teste, publicados em 2014, registraram que a ferramenta foi aprovada em entrevistas como uma alternativa para compreender melhor os sintomas e fazer com que os pacientes se sentissem com mais controle sobre a situação. Os autores defenderam esse tipo de recurso técnico como uma forma de apoiar pacientes com problemas.

Pesquisadores da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, criaram um serviço de apoio a pessoas com risco de depressão pela internet. No trabalho com os resultados do experimento, publicado em 2013, eles registraram que após um ano de funcionamento, o percentual de entrevistados que mencionaram pensamentos de autolesão caiu de 14,46% para 4,82%.

Estudo realizado na Universidade de Dalhousie, no Canadá, identificou um crescimento de 200% entre 2006 e 2010 na atividade online, como procura por informações em sites de busca, relacionadas a depressão e condutas suicidas. Entre os adultos, o tempo gasto online foi voltado a encontrar tratamentos. Já entre jovens, os fóruns online e redes sociais foram usados como ambientes de troca de informações e apoio a partir do compartilhamento de histórias pessoais

Estudo mostra ligação entre álcool e suicídio na faixa de 25 a 44 anos

Um estudo feito pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) divulgado este ano em um jornal científico reforçou a ligação entre o consumo de álcool e o suicídio. Foram analisados 1,7 mil casos na cidade de São Paulo entre 2011 e 2015 a partir de exames toxicológicos e mais de 30% das vítimas apresentavam diferentes concentrações de teor alcoólico no sangue. Entre os homens essa porcentagem chegou a 34,7%. A maior parte dos analisados, 49% corresponde a adultos jovens, com idade entre 25 e 44 anos. Dentro dessa faixa etária mais de 61% apresentavam álcool no sangue.

Segundo o psiquiatra Teng Chei Tung, coordenador dos Serviços de Pronto-Socorro e Interconsultas do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP, sob efeito do álcool as pessoas podem apresentar diminuição da capacidade de julgamento, do senso crítico e do autocontrole, assim como tendem a adotar comportamentos agressivos. Esse efeito pode ser ainda maior entre os adolescentes.

“O cérebro do adolescente ainda está em desenvolvimento e os efeitos do álcool são mais nocivos nessa idade, com impacto ainda maior sobre a tomada de decisões e o autocontrole. Estamos falando de uma faixa etária em que o imediatismo é mais evidente e a exposição ao álcool pode ser mais perigosa quando pensamos no risco para o suicídio”, explicou.

O presidente do CVV, Robert Paris, destacou que a entidade criou um serviço via chat com o intuito de atrair jovens. Segundo ele, a adesão desse público foi rápida. “Um dado que nos chamou muito a atenção é que no atendimento em geral cerca de 5% a 10% das pessoas manifestam intenção ou planejamento para o suicídio. Parece pouco, mas se pensarmos que temos 3 milhões de contatos por ano, isso significa um número de pessoas em alto risco e que, felizmente, estão pedindo ajuda de alguma maneira”.

Paris disse ainda que entre aqueles de 15 a 29 anos, a taxa dos que mostram planejamento ou intenção para suicídio é de 50%. “O jovem fala abertamente sobre isso. Ele pede ajuda e demonstra seu desespero. O problema é grave, estamos cada vez mais buscando voluntários para atender em todos os nossos meios de apoio, mas especificamente nesse. E buscamos trazer voluntários mais jovens.”

Mudanças bruscas de personalidade, alterações no desempenho escolar ou no trabalho podem ser sinais de que a pessoa sofre de algum transtorno que pode levar ao suicídio. Perda de interesse por atividades que antes eram prazerosas, isolamento familiar ou social, pessimismo, perda ou ganho inesperado de peso, frequência de comentários autodepreciativos ou sobre morte, ou a doação de pertences que antes o indivíduo valorizava também são sinais que devem ser notados.

*Com informações do SetembroAmarelo.org e Agência Brasil

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