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Apesar da perda de grande parte de seu estoque, Livraria Nobel vai reabrir sua loja na 16 de Março

A estimativa é que cerca de 15 mil livros tenham sido perdidos com a chuva do dia 15/2.

15 de fevereiro de 2022 é uma data que vai ficar marcada na memória dos petropolitanos. Uma tragédia como a tempestade que atingiu a cidade neste dia causou perdas irreparáveis, como a morte de centenas de pessoas, mas levou também casas, que foram construídas com o suor de uma vida inteira de trabalho, e atingiu ainda o sustento de tantas outras famílias.

Das muitas imagens e vídeos tristes da tragédia, uma foto mostrando milhares de livros molhados empilhados na calçada da Rua 16 de Março teve grande repercussão nas redes sociais, pois acabou representando também a perda de todo o comércio que teve suas lojas inundadas no Centro Histórico. Perdas, perdas e mais perdas era tudo o víamos por todos os lados. Perda de vidas, de moradias e, ainda, uma grande perda cultural.

“Não tenho direito de chorar pelos livros. Choro pelas pessoas que se foram com a chuva, porque o valor de cada livro está em quem o lê. Sem leitor, o livro é só mais uma coisa, um objeto qualquer”, disse Amauri Madeira, dono da livraria Nobel em Petrópolis, em entrevista ao portal UOL.

A estimativa é que cerca de 15 mil livros tenham sido perdidos na enchente, mas ainda falta fazer um inventário para dimensionar mais precisamente o tamanho do prejuízo. “O retorno da água do esgoto do vaso sanitário foi um dos fatores que fez encher o nosso estoque e isso impediu completamente qualquer tipo de doação daqueles livros que lá ficaram submersos por 36h. Ficamos drenando a água por dois dias e infelizmente os livros tiveram que ser perdidos”, conta Amauri que, assim como muitos comerciantes, está na luta para restabelecer seu negócio.

Crédito: reprodução / Nobel

De acordo com o site Publishnews, mobilizadas pelo ocorrido, editoras estão se reunindo para compor uma força-tarefa com intenção de ajudar a livraria através da doação de exemplares, para que a loja recupere pelo menos parte de seu estoque. A ação, que está centralizada na distribuidora Catavento, já conta com a adesão de várias editoras, como Citadel, Companhia das Letras, HarperCollins Brasil, Gente, Astral e Todavia.

“Nós soubemos [da doação] pelas redes sociais, que a distribuidora Catavento estaria fazendo uma arrecadação. Por enquanto, a gente não tem nem condições de receber, pois ainda estamos preparando o estoque e a loja, mas soubemos que alguma coisa vai ser doada para repor parte do que perdemos”, comenta Madeira.

Ainda segundo Amauri, metade da loja ficou em condições de abrir, então a previsão de reabertura é para o próximo sábado. “Vamos abrir sem estoque e a gente espera que as editoras nos ajudem a recuperar parte dele para que a gente possa ter resistência e manter a livraria aberta. Mas tem muitas livrarias de muitas cidades que precisam de ajuda, que não precisam de uma tragédia para que as editoras, as pessoas e profissionais do livro se mobilizem para ajudar. É muito importante termos uma livraria, a gente perdeu muitas vidas em Petrópolis, isso nos deixa muito tristes, e também tivemos uma perda cultural com os livros perdidos, pois cada livro perdido é uma pessoa que deixa de ser tocada; a perda cultural é muito grande”, analisa.

Uma maneira de ajudar não só a Nobel, como todos que vivem do comércio em Petrópolis é consumir localmente. “Somos apaixonados pelo que o livro pode fazer pelas pessoas. Somos missionários literários e acreditamos que o livro também pode curar muitas coisas. A cultura é necessária e precisa resistir. No que depender de nós, continuará resistindo. Aos clientes, pedimos que visitem nossa livraria. Aos que moram em outras cidades, prestigiem a livraria de sua cidade”, conclui Amauri.

Sobre a Livraria Nobel em Petrópolis

Tendo mudado de ramo há 20 anos, a paixão de Amauri pelos livros surgiu das frequentes idas às livrarias em aeroportos, com as constantes viagens que fazia quando era consultor internacional. “Meu amor por livros surgiu após a faculdade. Eu era um leitor de livros técnicos dentro do meu trabalho até que surgiu uma oportunidade para trabalhar fora do país, eu era consultor internacional e como viajava muito, entrava em muitas livrarias para buscar fontes de conhecimento, alguma inspiração. De tanto entrar em livrarias, um amigo meu falou ‘você gosta tanto de ler, por que não vai buscar uma livraria?’ e me apresentou à Nobel; eu entrei em contato com eles e foi assim que começou, em 2001”, lembra.

A decisão de abrir uma livraria levou em consideração a vontade de iniciar um negócio no qual pudesse trabalhar com sua esposa e os mantivesse próximos de seus filhos. “O propósito da livraria foi ser um negócio que tivesse valores compatíveis com os nossos, como o acesso à cultura, a formação de leitores, e que também pudesse fazer com que tivéssemos contato na formação dos nossos filhos”, explica Madeira, ressaltando que a Nobel é uma empresa familiar, na qual ele e sua esposa Sandra são sócios e seus filhos também trabalham nela. “Isso pressupõe continuidade. Investimos na formação de novos leitores para dar perenidade ao negócio”, complementa.

A Livraria Nobel completou 20 anos em outubro de 2021 e, desde sua abertura, funciona na Rua 16 de Março, 399 – Centro.

Marianne Wilbert

Jornalista, pós-graduada em mídias digitais.
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