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Coluna Literária

[Coluna literária] “Na pele de uma jihadista” – Anna Erelle

Até onde uma jornalista pode ir para saber mais sobre o Estado Islâmico e a forma que eles usam a internet para recrutar jovens europeus? Atraída pela história de grupos terroristas e como eles se articulam, a jornalista francesa Ana Erelle (o nome teve que ser mudado devido às ameaças de morte que recebeu) mantém um perfil falso no Facebook, passando-se por Mélodie, uma jovem de 20 anos, convertida ao Islã e moradora de um bairro pobre na periferia de Toulose. Ao compartilhar um vídeo do jihadista Abu Milel, o mesmo entra em contato com ela através da rede social.

“Diz-se com frequência que jornalistas são como cachorros em busca constante de um osso para roer. Verdade que, neste momento, certamente me excita a ideia de penetrar na psicologia do assassino. Deste assassino. Admiro os que são habitados pela fé. Invejo a força que ela proporciona. Deve ser uma muleta preciosa para avançar em meio aos dramas que permeiam inevitavelmente a vida. Mas quando a espiritualidade passa a servir de álibi para assassinos que a desvirtuam, então, eu, Anna, me autorizo a me tornar outra pessoa. Virtualmente falando, pelo menos.”

Prometendo uma vida idílica na Síria, onde ela será tratada como rainha, com apenas dois dias de conversa, ele já se declara apaixonado e começa a insistir para que ela vá encontrá-lo. Entre as descrições de suas conversas com Bilel, Anna adiciona suas impressões e relatos de matérias passadas que fez com famílias de jovens que se juntaram ao EI.

“Descreve para Mélodie uma cidade tão linda, tão livre, acima de tudo, com seus cafés, cinemas e butiques. Ele e seus homens já libertaram a cidade e os habitantes se sentem tão gratos, dão mostras tão calorosas de respeito! (A verdade é que 75% dos habitantes querem fugir da cidade, mas são impedidos pelo Daesh, em nome de leis que não são as daquele lugar). Bilel é um policial, e o EI, sua milícia. Contradições à parte, explica para Mélodie que em Raqqa as mulheres tem absoluta obrigação de usar o véu integral e só saem em horas bem determinadas, acompanhadas de seu marido, pai ou irmão. Essas são as únicas limitações.”

Entre cortejo e bajulações, Mélodie vai conseguindo extrair informações de Abu e descobre que ele é um emir, próximo a Abu Bakr al-Baghdadi, líder do Estado Islâmico. Sua história se torna ainda mais arriscada do que pensava…

O relato é fascinante e prende a atenção do início ao fim ao mostrar como os jihadistas pensam e recrutam pessoas. É interessante para que a gente possa compreender (não é bem essa palavra) um pouco mais esse grupo que tem sido responsável por vários ataques terroristas e que usa a internet para se articular e atrair adeptos. É uma leitura, de certa forma, agoniante, mas que eu recomendo!

Marianne Wilbert

Jornalista, pós-graduada em mídias digitais.
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