Publicidade Concer: Passarelas
Publicidade Concer: Passarelas
História

Carlos Oswald: considerações sobre o mestre da calcogravura brasileira

É sabido que Dom João VI incentivou sobremaneira o desenvolvimento das artes e das ciências no Brasil, e foi em torno da Imprensa Régia – fundada pelo monarca em 1808  – que se deu o movimento inicial da gravura no Brasil, quando da chegada da Missão Artística Francesa em 1816.

A arte da gravura desenvolveu-se gradativamente e, a partir do século XX, uma nova concepção da forma de gravar foi instaurada: antes vista apenas como um meio de reprodução, pois inspirada no trabalho de terceiros, a gravura começou a expressar-se diretamente das mãos de quem a concebia, libertando-se da fidelidade a outrem, e passou a denominar-se gravura artística.

 Mestre de primeira grandeza no Brasil na arte da gravura, Carlos Oswald (1882-1971) chegou ao Brasil em 1913, pela segunda vez, e foi convidado a inaugurar e dirigir a Oficina de Gravura do Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, entidade vinculada à Sociedade Propagadora das Belas Artes. Foi lá que iniciou o trabalho pioneiro de ensino da gravura em metal no país.

Nesse período, o artista trabalhou com afinco, sulcando um sem número de chapas e lutando para ganhar adeptos. Sua atuação como professor foi fundamental para que a técnica da calcogravura passasse a ser reconhecida, respeitada e divulgada. Imprimiu caráter expressivo à arte da gravura e buscou apoio às suas idéias numa sociedade que ainda via a gravura como mera representação técnica e como um processo de reprodução menor, longe de qualificá-la como arte em si.

O emérito professor pôde contar, entre seus alunos, nomes que hoje fazem parte da moderna e premiada gravura artística brasileira: Poty Lazarotto (1924-1998), Hans Steiner (1910-1974), Darel Valença Lins (1924), Henrique Carlos Bicalho Oswald, seu filho (1918-1965), e Orlando DaSilva (1923) que, futuramente, tornar-se-ia o maior conhecedor vivo da obra de seu mestre. Carlos Oswald totalizou quarenta anos à frente do ensino e da difusão da arte da gravura no país.

Mostra de Carlos Oswald no Espaço Cultural da Caixa em Brasília (Foto: Josafá Vilarouca)

Seu nome está ligado também ao do engenheiro carioca Heitor da Silva Costa (1873-1945), no que se refere à concepção do monumento brasileiro “O Cristo Redentor”, inaugurado solenemente no morro do Corcovado em 1931. É de seu ateliê que saíram os croquis enviados a Paris, e que possibilitaram a execução da obra pelo escultor francês de origem polonesa, Paul Landowski (1875-1961).

Em 1957, Carlos Oswald publicou sua autobiografia, “Como me tornei pintor” e, em 1962, chegou a ter quase todas as suas obras gravadas, bem como as obras de seus alunos, doadas por ele mesmo, ao Museu Nacional de Belas Artes. A conceituada instituição passou a ter então, sob sua guarda, praticamente todas as obras em gravura do mestre.

Depois da atuação de Carlos Oswald como professor, o ensino formal da arte da gravura estendeu-se gradativamente a todo o país, ganhando mais e apaixonados adeptos. Nomes contemporâneos ao de Carlos Oswald devem juntar-se a ele como pioneiros, pois trilharam carreiras incompreendidas, árduas, criando, porém, obras de rara beleza, como Oswaldo Goeldi (1895–1961), Raimundo Cela (1890–1954), Lívio Abramo (1903–1992) e Lasar Segall (1891-1957). A despeito de suas mais diversas influências e objetivos, deixaram uma reunião de trabalhos de fundamental importância para o estudo das artes plásticas no país, acrescido talvez da mais relevante lição de uma obra gravada: o caráter eminentemente democrático que a reprodutibilidade alcança.

Paulo Leonel Gomes Vergolino é formado pela Universidade Federal do Pará (UFPa) e especialista em Museologia pelos Museus de Arte Contemporânea e Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (USP). Atualmente atua como pesquisador na área da gravura brasileira,  produção cultural e curadoria. Foi responsável, entre outras exposições, por quatro mostras do artista Carlos Oswald nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Curitiba em 2010, 2011 e 2012.

Botão Voltar ao topo
error: Favor não reproduzir o conteúdo do AeP sem autorização ([email protected]).