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[Na Mente de um Strudel] Comigo não tá!

por Rafael Studart

Motivado pelo evento conhecido como “Comida di Buteco”, no último mês de abril, resolvi me embrenhar por vários cantos do Rio de Janeiro. Digo o Rio como um todo, não aquele porcento que continua lindo.

Em busca de uma experiência antropológica e gastronômica, conheci lugares incríveis, como a ladeira João Homem, o Bar do Omar, no alto do Santo Cristo, e a colônia de pescadores da Ilha do Governador, para citar alguns. Super agradáveis e tranquilos, com um entorno muitas vezes perigoso por conta da má administração pública e de tudo aquilo que já sabemos. Foi aí que me dei conta: viver no Rio é um grande pique-crime.

Há vários lugares maneiros e, a princípio, seguros. Seriam as nossas bases, como a parede do pique-parede. Mas pro pique ter graça não podemos ficar muito tempo nelas. E assim, vamos correndo de base em base. Seja porque fecham, ou por termos que estudar ou trabalhar em outras, ou, porque, se ficarmos muito tempo em uma delas, podemos ser chamados de termos pejorativos. Exceto em uma que vamos quando não temos mais como ir pra nenhuma outra.

Claro que o elemento principal do pique não poderia faltar. Por isso que, quando você sai da base, está livre pra ser pego pelo “crime” a qualquer momento. Se ele te pegar, algumas coisas podem acontecer: você pode terminar numa base perene, já mencionada no parágrafo anterior; ir pra uma base especial que cuida de pessoas pegas pelo “crime”; ou pra uma outra que te faz ficar algum tempo sem jogar. O diferencial deste pique são os pontos de trauma adquiridos sempre que você é pego. Eles dificultam a sua visão da brincadeira, pois você passará, inevitavelmente, a desconsiderar certas bases, ou certos caminhos para chegar a elas.

Supostamente existem pessoas que podem facilitar nossas vidas pra chegar às bases, mas elas estão ocupadas brincando num pique próprio, com regras que não são nem um pouco claras para nós, já que, às vezes, elas parecem jogar a favor do “crime”, ou contra nós, ou os dois.

É assim que pretendo explicar pros gringos como vivemos no Rio: brincando de pique-crime enquanto não vem alguém bater um, dois, três, salve todos!

studartRafael Studart é comediante, roteirista e professor universitário de física. Mestre pela COPPE/UFRJ, costuma tentar algo novo com uma certa frequência. Se quiser falar sobre relacionamento e sexo com ele, pode pará-lo na rua. Facebook: http://www.facebook.com/studart7

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