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Colunas

[Coluna política] Marina Silva é uma candidata “incoerente”?

O que mais tenho visto e lido a respeito dessas eleições são fatos sobre a candidata Marina Silva. Desde que ela assumiu o posto deixado após a morte de Eduardo Campos, cada momento do passado, do presente, e da projeção de futuro de Marina está sob uma lente de aumento que beira a uma minúcia comum apenas nos microscópios da política. Entre muito do que se diz é que Marina é uma candidata “incoerente”, que ela não possui uma pauta, não afirma nada, não escolhe lado e fica em cima do muro ou simplesmente “omite” o que acha de diversos temas.

A pergunta que me faço é: será isso verdade? Marina é incoerente?

Sempre que coloco essa palavra em destaque, tento me dizer o que seria, enfim, uma coerência política. A primeira coisa que se pode dizer é de coerência com “ideologias”, ser de esquerda ou ser de direita, centro-esquerda, social-democrata, socialista, neo-liberal. Manter um padrão nestes pontos seria uma coerência. No entanto, alguns partidos, grupos ou organizações não mantém esse padrão, como por exemplo: ser de esquerda, se nomear como esquerda, mas fazer parcerias que beneficiam bancos, ruralistas, evangélicos. Isso seria uma incoerência. Outra incoerência, neste ponto, seria, enquanto neo-liberal se esforçar para manter um controle do estado em alguns pontos, inflando-o.

A segunda incoerência que se pode dizer tem a ver com partidos políticos: ser do PT, ser do PV, ser do PSDB. Escolher um partido e manter-se fiel a ele pode ou é visto como uma coerência. Essa coerência também pode ser derrubada quando vemos que o PT pré-governo é um, e no governo é outro, ou quando percebemos que o PSDB como oposição é bem diferente de como situação e, mesmo na oposição, algumas vezes se aproxima do PT e em outras o repele totalmente. O PSOL, nesse sentido, poderia ser considerado “incoerente” por sair do PT, embora seja totalmente coerente ter saído do PT não por mudança daquelas pessoas, mas por mudanças do próprio PT. (Pode-se dizer, neste caso, que alguém do PSOL que resolve votar na Dilma é um completo incoerente, mesmo porque eles têm o próprio candidato, ao menos que, no caso de se oporem à Marina, trair seu partido seja mais coerente do que segui-lo. Percebe como a solução não é tão simples?).

Ou seja, neste painel, como atribuímos valor à incoerência? Em alguns momentos, ela é vista como retidão de caráter, como moral, como um ato dignificador de um “padrão de comportamento”. Em outros, é vista como um desvio ético, de conduta e como um pensamento variável, flutuante e influenciável de pessoa que “não se pode confiar”.

Assim, creio que ver na “incoerência” de Marina um defeito expõe também incoerências boas /coerências ruins dos demais candidatos, assim como demarca que, em alguns casos, antes ser incoerente do que ter um tipo de coerência. Aí é tudo questão de escolha: que coerência queremos, que incoerência é boa e, por fim, qual nossa intenção ao fazer tal acusação?

Caso você queira que os partidos e os projetos de governo se mantenham como estão, a coerência será um alto valor. Se você vê no PT aquele que pode realizar as mudanças que precisamos e que a maioria está em processo, aí sim, o valor da coerência é válido. O mesmo se pode dizer do PSDB e sua política de visão econômica como prioridade. O PMDB é altamente coerente com a ideia de estar sempre no governo, ou não?

Marina é sim incoerente, mas depende de onde se está vendo, de que prisma, de que lado e o que se pretende dizer da incoerência. O esfacelamento da ideia de partido, partidos que muitos dizem ser algo conservador e anacrônico em nossa política, pode ser visto como um bem, aquilo que o país precisa, também pode ser visto como um risco à nossa democracia. Tento desmontar a ideia da coerência como um valor, não para defender a coerência, mas para permitir que o debate não fique apenas fechado nesse ponto, andando em círculos dentro de si mesmo, sem produzir nada mais que acusações.

A questão da coerência, enfim, é sempre se perguntar: de onde estamos olhando? Incoerente todos somos, a questão é em que, quando, por que e para que? E que viva nosso poder de escolha!

luizLuiz Antonio Ribeiro Formado em Teoria do Teatro pela UNIRIO, mestrando em Memória Social na área de poesia brasileira e graduando do curso de Letras/Literaturas. É adepto da leitura, pesquisa, cinema, cerveja, Flamengo e ócio criativo. Em geral, se arrepende do que escreve. Facebook: http://www.facebook.com/ziul.ribeiro Twitter: http://www.twitter.com/ziul

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Um Comentário

  1. Você rodou, rodou e chegou no velho conhecido relativismo: Tudo é válido dependendo do lado em que nos posicionamos.
    Sou de opinião que já está mais do que na hora que os cidadãos brasileiros sejam coerentes em suas convicções. O que é mais comum é ouvir: “Ah, tanto faz, esquerda ou direita, PT ou PSDB… Tudo é a mesma coisa!” Não é não. Não é não. Esquerda não é a mesma coisa que direita, assim como o PT é muito diferente do PSDB e outros partidos.
    É essa promiscuidade ideológica que faz com que o cidadão seja vítima desse carnaval que é a nossa política. Precisamos de coerência sim. Precisamos de uma visão clara e radical que defina que tipo de sociedade queremos para o nosso país. Com o “tanto faz” nunca chegaremos lá.

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