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Colunas

[Coluna de opinião] POR UMA VIDA COM MAIS GLÚTEN ou a perseguição às substâncias químicas

 – Eu não sou nutricionista, nem médico, nem entendedor de assuntos de saúde, meu comentário é meramente comportamental.

De todas as coisas sem sentido que vi nos últimos tempos a pior delas é a perseguição ao glúten. Nada agora pode ter glúten e glúten virou o grande vilão da saúde. Obviamente apareceram grandes neo-cozinheiros que fazem receita de biscoito, bolo e grandes iguarias sem glúten. Não fica lá grandes coisas, claro, mas eles cobram muito mais por um bolinho e o triplo por uma empada.

O problema de nossa geração e, principalmente de uma classe média, com ensino formal de nível mais ou menos alto, é que ela percebe que o estilo se contradiz com alguns desejos naturais. Assim, criam-se conceitos paradoxais como “é preciso viver intensamente” com “é preciso cuidar da saúde”. Saiba que qualquer “é preciso” já contém uma violência que é a obrigatoriedade de se fazer algo em algum momento por alguma causa.

Em relação à saúde, meu pensamento é simples: a saúde não é um fim em si. Precisamos estar saudáveis para algo: para viver, para amar, para transar, para viajar, ou seja, para aproveitar todas as instâncias de nossa vida. Desta forma, estar saudável não é estar com o colesterol dentro dos parâmetros estatísticos ou um IMC exatamente na média da média ou até uma quantidade de vitaminas essenciais para uma boa saúde. Estar saudável é bem-estar e bem-estar inclui exageros. Para a felicidade, o exagero é fundamental. Nutricionistas devem estar me odiando, eu acho, mas isto é um fato.

Outro problema comum é: “somos de uma classe financeira média e temos boa educação, mas temos anseios religiosos”. Virar crente ou católico está fora de moda, não tem estilo. Espiritismo? Talvez. Mas a solução, em geral, é arrumar uma neo-religiosidade, meio sincrética, meio baseada em coisas orientais/científicas. Aí a pessoa resolve fazer yoga, equilibrar energias com Feng Shui, pendurar coisas nas portas e janelas para emanar bons fluidos e… transformar a alimentação: consumo de produtos orgânicos, sem glúten, sem gordura trans, se possível, virar vegetariano, militar sobre isso na internet e viajar duas vezes por ano para um “paraíso natural” para “encontrar seu eu interior”.

Essa nova vida se transforma, aos poucos, em uma vida de mentira, mas que agrada e agrega. É quase festivo estar em um grupo assim, parece uma alegria, um amor intenso. No fundo, isso é tão conservador quanto ser um consumidor voraz e viver pelos shoppings gastando com roupas caras e joias.

Por fim, viramos pessoas que perseguimos substâncias químicas e deixamos de entender nossas demandas. Nosso corpo passa a ser novamente controlado para “nosso bem”. Esquecemos que é possível mais uma vez ser livres e optamos por novas formas de auto vigilância. No fundo, tudo isso é medo da morte que se configura numa coisa terrível: o medo da vida.

luizLuiz Antonio Ribeiro Formado em Teoria do Teatro pela UNIRIO, mestrando em Memória Social na área de poesia brasileira e graduando do curso de Letras/Literaturas. É adepto da leitura, pesquisa, cinema, cerveja, Flamengo e ócio criativo. Em geral, se arrepende do que escreve. Facebook:http://www.facebook.com/ziul.ribeiro Twitter: http://www.twitter.com/ziul

 

 

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