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[Na mente de um Strudel] Muçandas

(Foto: reprodução)

por Rafael Studart

Final de ano. Por motivos óbvios, a data perfeita para pensarmos em mudanças. Mas não se preocupe. Durma bem. Aproveite essa noite, porque em algum beco, uma mudança em sua vida começa a tomar forma.

Aparentemente inócua, uma ação, ou ideia, é capaz de gerar um efeito cascata, ganhando cada vez mais ímpeto com o passar do tempo, culminando em mudanças gigantescas. Assim que elas funcionam: concepções não planejadas durante uma bebedeira pré-reveillon. Mas não se engane. Mudanças são à prova de datas. Um dia, um ano, um século… tanto faz. Egoístas que são, o que importa é acontecerem.

Milhares de pessoas perdem suas economias todos os anos no meio de um deserto porque um homem megalomaníaco se interessou por uma mulher difícil. Guerras santas são travadas ainda hoje por conta de uma chuva de meteoros que estavam vagando pelo universo ênios atrás. Uma aprovação dada pela escola de artes de Viena poderia ter salvo a vida de 40 milhões de pessoas. Eu, por exemplo, beijei a bunda da Rita Cadillac em outubro de 2010 porque meu pai resolveu assinar a NET em fevereiro de 1992. Um dia entro nos detalhes dessa história, mas perceba que foram 18 anos e 8 meses para essa relação de causa e efeito acontecer.

Nem toda perturbação no oceano vira tsunami que arrebenta no quebra-mar e destrói tudo por onde passa, assim como nem toda ação tem consequências devastadoras. Muitas vezes a energia desse movimento se dissipa de outras formas. A questão é que nunca saberemos o que vai se dissipar e o que se potencializará. E quando não sabemos que a meada sequer existe, perder seu fio não é uma opção.

Imprevisíveis e incontroláveis. Embora pensemos o contrário, mudanças são assim. Por vezes adiáveis, nutrimos esperanças de que sejam remediáveis. Mas como um vírus, elas se adaptam e acham um novo jeito de aparecer.

Só conhecem um sentido: para frente. A entropia está na natureza delas, assim como temê-las está na nossa. Esse é o motivo pelo qual promessas do 31 de dezembro não ecoam ano adentro. Não queremos mudar e portanto não queremos que nada mude: não corte o cabelo, meu filho; não se case com aquela mulher, pai; não vá pra Manaus estudar sobre a malária, meu amor.

O medo da mudança está em nós, mas também está a capacidade de adaptação. Portanto, abrace o caos.

Sugiro, ou melhor, desejo que para o ano que vem experimente trocar algo de lugar. Fique à vontade para ser o mais abstrato possível aqui. Um desconforto talvez surja, mas tente observar a repercussão dessa mudança provocada por você. Note que, embora diferente, tudo continuará fazendo sendito.

studartRafael Studart é comediante, roteirista e professor universitário de física. Mestre pela COPPE/UFRJ, costuma tentar algo novo com uma certa frequência. Se quiser falar sobre relacionamento e sexo com ele, pode pará-lo na rua. Facebook: http://www.facebook.com/studart7

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