Foto: Largada de corrida no Centro de Petrópolis em 1968 (Crédito: Tullio M. Mario no site Brazil Yellow Pages)
A Cidade Imperial já foi palco de grandes eventos automobilísticos. Alguns devem se lembrar das corridas pelo Centro Histórico que acotneceram até a década de 1960, as quais levavam muitas pessoas às ruas para ver os carros de diferentes modelos e pilotos renomados competindo.
De acordo com o artigo “O automobilismo em Petrópolis”, escrito por Manoel de Souza Lordeiro para o site do Instituto Histórico de Petrópolis, o primeiro evento automobilístico ocorrido na cidade de que se tem notícia aconteceu em 9 de maço de 1908 com a chegada dos volantes Gastão de Almeida e Braz de Nova Friburgo, que haviam saído da Avenida Central (atual Rio Branco), no Rio de Janeiro, três dias antes (ou seja, no dia 6 de março), e depois de enfrentarem caminhos mal conservados e áreas alagadiças conseguiram chegar aqui; uma verdadeira façanha para aquela época.
Dois anos depois, Gastão de Almeida, Artur Bilbau e Sully de Souza partem de Petrópolis rumo a Juiz de Fora, completando o percurso em 8 horas, o que foi facilitado pelas condições favoráveis da Estrada União e Indústria. No ano seguinte, Luiz Tavares Guerra, Luiz Prates e Honorato Pereira partiram rumo a Teresópolis e demoraram 39 horas para chegar à cidade. Já em maio de 1914, José Tavares Guerra, Henrique Cunha e João Raeder, mais os mecânicos Waldemar Rocha e José Silva, partiram de Petrópolis rumo a Paraíba do Sul, completando o percurso em cerca de 5 horas.
Com o avanço da indústria automobilística e da consequente popularização do automóvel, os esportistas foram perdendo o interesse por essas provas de resistência, voltando-se para as competições, que viriam a ocorrer com regularidade a partir da década de 1930.
Na década de 1920, um petropolitano se destacou em competições lá fora trata-se de Irineu Corrêa que iniciou sua carreira ao vencer uma corrida em Chester Fair, nos Estados Unidos. Ao longo de sua carreira, ele participou de várias competições, entre elas o Grande Prêmio Nacional Argentino, obtendo o 2º lugar em 1929, e o 3º em 1930. Ainda em 1930, disputou uma prova de resistência no trajeto Buenos Aires – Rosário – Córdoba, sagrando-se campeão.
Em 8 de outubro de 1933 foi realizado o I Grande Prêmio Cidade do Rio de Janeiro, no Circuito da Gávea, o “Trampolim do Diabo”, prova que passaria a ter projeção internacional, reunindo a elite dos pilotos do cenário automobilístico. O vencedor foi Manuel de Teffé, que se consagraria como um dos melhores pilotos brasileiros, conduzindo um Alfa-Romeo. Irineu Corrêa, pilotando um Chrysler adaptado, quebra a bengala e fica fora da corrida.
Na segunda edição realizada no ano seguinte, em 3 de outubro de 1934, Irineu venceu o Circuito da Gávea dirigindo seu Ford Standard de 8 cilindros em V (o famoso V8), que fora adaptado para torná-lo mais competitivo. Porém, na 3ª edição, realizada em junho de 1935, o petropolitano sofreu um acidente durante o percurso, ao bater em uma árvore e cair num canal na Av. Visconde de Albuquerque. Entre as homenagens que lhe foram prestadas está a denominação de uma rua no bairro do Alto da Serra.
Também na década de 1930 tiveram início as competições na estrada Rio-Petrópolis, realizadas pelo Automóvel Club do Brasil com apoio da Prefeitura Municipal. A prova chamada “Subida da Montanha” era disputada no trecho entre Meriti e Quitandinha, e teve sua primeira edição em 28 de fevereiro de 1932, na qual o piloto alemão Hans von Stuck venceu. No ano seguinte, o vencedor foi Júlio de Morais.
A “Subida da Montanha” seria disputada ainda em 1937 e 1943, ambas vencidas por Manuel de Teffé; e em 1944, 1945 e 1946, vencidas, respectivamente, por Chico Landi, Catarino Andreata e Gino Bianco.
Em 1948 foi realizado o I Circuito de Petrópolis, cujo trajeto de aproximadamente quatro quilômetros passava pelo Centro na Rua do Imperador, Catedral e Rua da Imperatriz, e atraía uma multidão que ficava nas calçadas vendo os carros passarem. O vencedor da primeira edição foi Benedito Lopes, que pilotava uma Maseratti.
O circuito aconteceu ao longo da década de 1950 e 1960 e chegou ao fim em 1968, com a morte de dois pilotos durante a corrida, Sérgio Cardoso e Cacaio. Segundo informações do site Brazil Yellow Pages, “Sergio Cardoso, pilotando uma Alfa Ti Super, desgovernou-se nos treinos e bateu num paredão e diversos postes, estraçalhando o carro, logo após a ocorrência de outro acidente, com uma Alfa GTA de Henrique Kraischer. Sergio teve traumatismo craniano, esmagamento do tórax e faleceu durante a madrugada. A prova contava com muitos pilotos importantes do automobilismo na época: Chico Landi e Ubaldo Cesar Lolli com BMW, a equipe Ford Willys com Luis Pereira Bueno, Bird Clemente e Carol Figueiredo, trinta carros ao todo e público de 50.000 pessoas. Infelizmente, no molde de Imola/1994, a corrida tinha toda vocação para ser trágica desde o princípio. Na terceira volta Carol se acidenta com o Bino Mark I, sofrendo fratura na coluna. Diversos colegas partem a seu socorro, inclusive Wilson Fittipaldi Jr., e o piloto Cacaio, Joaquim Carlos Telles de Matos, que era sobrinho do Marinho da Vemag. Os dois não estavam correndo: o primeiro se recusara a correr, devido às péssimas condições de segurança, e o segundo atuava como bandeirinha. O grande acidente ocorreu na quarta volta, quando Luis Pereira Bueno, líder da prova, se defendia dos ataques de Ubaldo Cesar Lolli com a BMW. Desesperado, Cacaio sinalizava pois já havia um caminhão de bombeiros na pista, mas infelizmente, estava no caminho do Bino: o atropelamento foi certeiro, e com diversos ferimentos, Cacaio morrera, mas Luizinho fora salvo. A prova foi interrompida, e também, o automobilismo em Petrópolis: esta foi a última corrida na cidade.”
Fontes: Instituto Petropolitano de História; Brazil Yellow Pages; Nobres do Grid; AutoSerra; Puntata-taco.