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Saúde

Psicanalista esclarece dúvidas sobre a depressão

Falar sobre saúde mental, depressão, ansiedade e suicídio exige cuidados, mas os temas não podem ser deixados de lado sobretudo em um cenário de crescimento dos casos de autolesão em todo o mundo. De acordo com pesquisadores, a dificuldade existe porque há estigmas e pouca compreensão da sociedade dando margem, com frequência, a visões que carregam preconceito. Muitas vezes, o tabu interdita a circulação da informação, o que é importante para evitar novas ocorrências de suicídio.

Assim, no mês de estímulo a divulgação de prevenção ao suicídio e valorização da vida, Setembro Amarelo, é importante falar também sobre a depressão e aprender a reconhecer aqueles que precisam de ajuda.

Desta forma, para esclarecer dúvidas em relação ao quadro depressivo, entrevistamos a psicanalista Virgínia Ferreira, professora do curso de Psicologia da FMP/Fase e Coordenadora de pós-graduação em Psicologia Clínica com Ênfase em Perspectivas Breves. Confira abaixo:

Quais os principais sintomas da depressão? Como saber quando buscar ajuda especializada?

A depressão é considerada o mal do século pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e até os dias atuais, se constitui como um enorme desafio para psiquiatras, psicólogos, psicanalistas e pacientes.

De acordo com a OMS, a depressão se caracteriza pela diminuição ou perda de interesse e prazer pela vida, gerando angústia e prostração, em geral, sem um motivo aparente. Entretanto, cabe ressaltar que: 1º. a diminuição de perda de interesse é por tudo aquilo que a pessoa sempre se interessou ou realizava com entusiasmo; 2º. sem um motivo evidente, não quer dizer que não tenha um motivo, quer dizer apenas que não se conhece o motivo ainda, mas ele existe.

Como reconhecer quem precisa de ajuda?

O comportamento de uma pessoa que esteja entrando num processo depressivo muda: há um desinteresse gradativo pelas atividades sociais, chegando a evitação; sensações de desânimo; perda de apetite; sonolência; palidez no sorriso; pensamentos pessimistas; baixa autoestima; sensação de incapacidade para atividades que antes eram exercidas; dificuldade para se concentrar; dificuldade de memorização; fraqueza; cansaço; ansiedade; falta de interesse sexual (baixa libido). Enfim, além de um claro desinteresse pela vida, há um isolamento social – a pessoa em depressão, em geral, não quer conversar com ninguém, quer ficar só, além dos sintomas já mencionados.

O grande obstáculo à procura de tratamento especializado é que, em geral, a pessoa iniciando um processo depressivo, ela e todos aqueles que estão em seu entorno – familiares, amigos dentre outros, atribuem sua mudança de comportamento ao cansaço, ao cenário político e econômico que o Brasil atravessa, à violência urbana, enfim, atribuem sempre a fatores externos e, assim, não procuram tratamento e a depressão vai avançando. Quando buscam ajuda, um tratamento, via de regra, a depressão já se encontra num estágio mais avançado. Isso não significa dizer que, uma pessoa, vez ou outra, não possa ter uma mudança de comportamento por motivo de cansaço, violência urbana etc, entretanto, se a mudança permanece, ela precisa buscar imediatamente um especialista.

Esse comportamento de negação da doença pela própria pessoa e por todos que estão em seu entorno, é decorrente do preconceito muito comum na sociedade brasileira, no tocante às doenças psíquicas. Esse comportamento preconceituoso não faz com que as enfermidades psíquicas regridam, ao contrário, só faz com que elas avancem. Elas precisam ser enfrentadas e quanto mais cedo a pessoa procura um especialista, menos difícil é o tratamento e mais rápido ela retorna ao estado de bem-estar.

O suicídio é quase sempre o desdobramento de um quadro depressivo que não teve a devida atenção?

A depressão, se não tratada, pode levar à morte, ou por doenças físicas, uma vez que, a pessoa se alimenta mal, podendo até deixar de comer e, por estar com o emocional muito abalado por muito tempo, o sistema imunológico baixa e ela se torna presa de uma série de doenças; ou por ela atentar contra sua própria vida. O suicídio não é incomum nas pessoas que tem depressão por muito tempo e que não buscaram tratamento ou que foram tratados de forma indevida. Se na depressão a pessoa tem pensamentos pessimistas, com o tempo, esses pensamentos vão evoluindo para pensamentos frequentes sobre a morte, além do que, todos os demais sintomas, levam a pessoa a vontade de morrer. Afinal, num estágio da doença, ela é e sabe que é, uma morta viva.

Há fatores agravantes? Pessoas com mais propensão?

Certamente, há fatores que podem fazer com que uma pessoa entre num processo depressivo: morte de alguém muito amado; desemprego; separação conjugal; excesso de peso; disfunções hormonais; ansiedade crônica; crise política; violência urbana excessiva; uso exacerbado – vício de internet e redes sociais; vícios em drogas lícitas – álcool ou drogas ilícitas – crack dentre outros. São inúmeras as causam que podem levar a depressão. Entretanto, cabe ressaltar que, todos nós um dia já vivemos a dor pela morte de alguém muito amado, já ficamos desempregados, etc. O que vai facilitar a instalação da depressão não são necessariamente esses fatores, mas sim, a forma com que cada um os encara e os vivencia. Pessoas estressadas, irritadiças, mal-humoradas, pessimistas, fragilizadas emocionalmente, via de regra, são mais propensas a processos depressivos do que as pessoas que encaram os atravessamentos cotidianos com serenidade e equilíbrio.

Sem dúvida, a realidade tem duas faces: uma que é bonita, agradável, e outra que é uma trama de limites e muitas vezes, de descontentamentos. Entretanto, isso não nos impede de sermos felizes. Não deixamos de apreciar a beleza de uma for mesmo sabendo que em poucos dias ela murchará ou não deixamos de apreciar o sol, mesmo percebendo que o tempo está fechando. Dessa forma, precisamos nos livrar dos preconceitos que nos assombram e viver a vida. Caso sejamos pegos de surpresa tendo comportamentos diferentes dos habituais, devemos imediatamente procurar ajuda. Depois da tempestade, sempre vem a bonança. Mas, nesse caso, a bonança só virá se procurarmos ajuda. Se há profissionais especializados, por que não buscá-los? A vida é uma moeda em constante rodopio, isso quer dizer: ora estamos alegres, ora tristes; ora corajosos, ora medrosos; ora felizes, ora infelizes; ora amando, ora odiando; ora sendo amados, ora sendo odiados e assim sucessivamente. Mas não esqueçam nunca de que o movimento a moeda, somos nós quem damos. Se num dos rodopios cai o sofrimento, faz parte, mas permanecer imerso nele é uma questão de escolha. Há sempre uma possibilidade, uma saída. Não basta querer. Temos que agir. O que muda uma realidade são ações e nunca intenções. A vida é movimento, é ação.

*Com informações da Agência Brasil

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