Concer: Maio amarelo
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Cultura & Lazer

Público crescente e oferta de bons músicos marcam a popularização do jazz na cidade

Foto: Felipe Hutter

A média de público é de 70 pessoas, mas esse número pode chegar a 130 em uma noite movimentada na Rua Quissamã. A casa de nº 120 é a porta de entrada para o Estúdio S de Música, onde acontece semanalmente o Segunda Jazz, uma verdadeira jam session para os apreciadores do gênero.

O evento é garantia de casa cheia para o proprietário, Nicolau Abdu – apesar de ser realizado em plena segunda-feira. Ele abriu o estúdio há cinco anos com o objetivo de oferecer aos músicos um espaço para ensaios e gravações, mas há pouco menos de três anos o Segunda Jazz ganhou forma.

“Esse movimento começou com os ensaios abertos do Serra Velha Quarteto e, desde janeiro de 2010, só deixou de acontecer em uma semana. Hoje, o jazz já está se tornando uma tradição e ajudou a abrir espaço para outras bandas, inclusive uma noite dedicada apenas ao rock e ao blues, às sextas-feiras”, conta.

A ideia começou tímida. Um grupo de quatro amigos se reuniu para ensaiar temas de jazz e decidiu abrir as jam sessions ao público. Dois meses depois acontecia o primeiro Segunda Jazz. Na plateia, apenas dois espectadores (e amigos dos músicos) ouviam Edu Pinheiro (sax tenor), Carlos Watkins (sax barítono), Felipe Depoli (baixo acústico) e Luís Coquinho (bateria).

O evento acabou surgindo da necessidade de um ponto de encontro. “Logo começamos a agregar outros músicos, pois era um espaço para tocar aquilo que gostávamos, além de aproximar esse tipo de música de pessoas que tinham vontade de conhecê-la, da forma mais democrática possível. O jazz acaba sendo associado a locais elitizados, mas nosso intuito não era o de tocar para entendedores de música, e sim para quem a aprecia”, explica Felipe Depoli. O público cresceu, e o grupo também – o Segunda Jazz somou os músicos Lelei Gracindo (sax alto), Breno Morais (sax soprano e flauta) e André Mendes (piano e escaleta) -, mas o conceito permanece o mesmo.

A popularização desse gênero musical não aconteceu da noite para o dia. Há cerca de 10 anos, a cena de jazz em Petrópolis era restrita a festas e eventos, a pousadas de Itaipava e a um piano bar em Bonsucesso, onde aconteciam shows pontuais.

Mas o pontapé inicial para um evento fixo veio apenas em 2009. Um café que funcionava na Galeria Cristal passou a promover apresentações do quarteto André Mendes (piano), Breno Morais (sax), Gabriel Tauk (contrabaixo) e Yuri Garrido (bateria). A formação ganhou o nome de Cristal Jazz e logo se popularizou, levando um público numeroso ao espaço por quase um ano. Confirmando essa tendência, estabelecimentos como o Restaurante Capitólio passaram a abrir espaço para as bandas de jazz, naquela época já mais numerosas com o surgimento dos grupos Matita Pereira e Maria Comprida Jazz Band, entre outros, hoje inativos.

“Antes desse movimento, o jazz na cidade era pouco aglutinado. Existiam grupos bacanas, mas o fluxo maior das apresentações era como música de fundo em restaurantes. Os movimentos anteriores foram menores. O Cristal foi o primeiro endereço do jazz e das jams em Petrópolis. Foi ali onde a coisa andou”, recorda Breno Morais.

Atualmente, o jazz também ganhou espaço em Itaipava. O Faustino Bar e Adega vem realizando todas as quintas-feiras, desde 2011, o Ponto Jazz. No shopping ao lado, o restaurante Bordeaux também investe no instrumental com noites regadas com o chorinho e samba temperados de jazz do Quarteto Kauabanga. Eventos de grande porte, como os festivais do Shopping Vilarejo e o do Sesc Rio, que teve sua primeira edição em novembro, ajudam a popularizar o gênero.

“O Segunda Jazz ajudou a abrir portas e facilitou o contato com um público muito expressivo e que não conhecia esse tipo de música. Vários outros espaços foram surgindo, valorizando mais o músico e democratizando a oferta ao público”, analisa Depoli.

Mas, embora a tendência esteja se fortalecendo, ainda há espaço para crescimento. “Antes, as pessoas ouviam esse tipo de música quando passavam pela galeria. Hoje há um espaço onde as pessoas vão ouvir jazz. No entanto, ainda estamos longe do que podemos fazer, considerando que a cidade tem muitos bons músicos. Tem de haver mais lugares para a prática da música instrumental. Estamos sediando festivais, mas a população deve ter acesso a isso. Temos uma cidade cheia de bandas marciais, gente nova tocando, soprando, que por vezes abandonam a música ao se formarem na escola. Nossa música ainda não cumpriu seu papel social de formar público e músicos, e temos muito potencial”, destaca Morais.

Apesar disso, o cenário parece promissor. Durante uma curta temporada, as noites de jazz voltaram à Galeria Cristal em 2012. A banda ACME foi a responsável por lotar o bar que funcionava no local, o que confirmou a tendência. Considerando que a cidade é um verdadeiro celeiro de bons músicos e o público cada vez mais crescente, pode ser que essa revolução esteja apenas começando.

 

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