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Cultura & Lazer

[Crítica] A Ciranda Vai Rodar – Tribo de Gonzaga

A banda petropolitana Tribo de Gonzaga lançou, no último sábado (17), o seu terceiro CD de inéditas chamado A Ciranda Vai Rodar. O disco que mantém o mesmo nível de qualidade dos dois primeiros, De Mudar o Coração de Cada Um e Venha Ver o Sol, também surpreende pela mistura de gêneros e inovações, além de possuir características que o diferem das demais obras.

A Ciranda Vai Rodar é um disco ligeiramente mais soturno com diversos toques contemplativos sobre questões tanto subjetivas quanto políticas.

A canção que abre o CD, homônima ao disco, começa numa surpreendente marcha rancho, com toques de ciranda que, de súbito, se torna um potente frevo. Em seguida, temos o comovente xote Casinha Simples que fala da valorização das coisas simples da vida e da urgência em se dar valor à coisa mais importante da vida: viver. Já Deixa Ser, a canção mais densa e obscura do disco, reflete sobre as voltas da vida e, principalmente, do amor. De ritmo lento, com uma linda linha melódica do Sax de Lelei Gracindo que corre paralela ao todo, chega a ligeiramente lembrar a música De Mudar o Coração de Cada Um, que fecha o primeiro álbum da banda.

Logo em seguida, há a aceleradíssima Sapato pra Todo Pé, de Cesar Nascimento e Vicente Telles,  hino do carnaval de Petrópolis em 2014, com o excelente refrão:

Se teu amor te deixou, não vá perder a fé
Tem pedra no sapato de todo mundo e no mundo tem sapato pra todo pé

 

Ouça a música na íntegra aqui.

A quinta faixa é Gaivota de Papel, que ganhou um arranjo surpreendente do que era ouvido usualmente nos shows da banda. Trata-se de um forrozinho simples que, um pouco mais acelerado, é a que mais lembra um forró tradicional nordestino, talvez pelo excelente arranjo de acordeão e viola caipira (Alexandre Pachá). Engraçado, pois nos shows ela costumava aparecer junto aos xotes. Me Convide pra Sonhar é a que mais me agrada na divisão da métrica dos versos, pois possui uma espécie de continuum em alguns momentos que parece fazer o verso se estender por um longo tempo, o que não se confirma quando ela descansa num sensacional refrão. No dia da composição, os compositores Guido Martini (vocal) e Gabriel Tauk (baixo) postaram um vídeo da música. Confira:

Esperança Seca 3 é a continuação de uma tradição da banda. Em todos os discos até agora houve uma canção com o título Esperança Seca que fala das mazelas de um sertão ou deserto e da necessidade de chuvas, rios e águas para inundar a vida. É possível ver na sequência das músicas uma intensa crítica de uma situação que se repete eternamente em nosso Brasil, e a Esperança Seca passa a ser essa de todos nós que, com nó na garganta, nos vemos obrigados a manter uma crença na mudança, se não aqui na terra, pelo menos vinda dos céus.

Manhatã é afetivamente a minha canção preferida do disco. Acelerada, quase um baião-rock, com toques de Chico Science e Mangue Beat, faz menção a Jack, um bom rapaz que não consegue ascender, pois “quem é do bem aqui fica trás” e Mary, que precisa vender seu corpo para sobreviver.  É a única do disco cantada pelo baixista Gabriel Tauk que, com um vocal rasgado, violento, traz uma carga dramática essencial para o forró, fazendo um genial contraponto em relação aos demais vocalistas: Guido Martini e Toni Magdalena. Manhatã, para quem não sabe, é como ficou conhecida a cidade de Manhattan, inclusive, o cantor Cazuza adorava chamar a cidade pelo nome abrasileirado.

A penúltima canção do disco é a romântica Pra te Fazer Brilhar, um xote singelo que homenageia as loirinhas de nossa cidade. É a melhor de todas para dançar agarradinho e, talvez, a mais pop do disco, aquela que pode ser a Quando eu Te Vi, sucesso do primeiro CD, de A Ciranda Vai Rodar. O disco se encerra com o frevo Acende o Balão, no melhor estilo Frevo Mulher, e tem tudo para se tornar uma música muito tocada nas festas juninas da cidade.

Para resumir, o disco é uma grata surpresa, que mostra que a Tribo de Gonzaga é definitivamente uma banda de qualidade e maturidade musical, se tornando possivelmente a maior e mais consistente banda de Petrópolis. Recomendo fortemente a aquisição do disco, uma excelente pedida para quem gosta de boa música.

Ouça o álbum aqui.

Tribo de Gonzaga: Guido Martini, Toni Magdalena, Gabriel Tauk e Anderson Maia

Participações Especiais: Jorge Amorim, Mará, Russel Serra, Lelei Gracindo, Francisco Ytida, e Alexandre Pachá.

luizLuiz Antonio Ribeiro Formado em Teoria do Teatro pela UNIRIO, mestrando em Memória Social na área de poesia brasileira e graduando do curso de Letras/Literaturas. É adepto da leitura, pesquisa, cinema, cerveja, Flamengo e ócio criativo. Em geral, se arrepende do que escreve. Facebook: http://www.facebook.com/ziul.ribeiro Twitter: http://www.twitter.com/ziul

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