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[Para & Pensa] Fascismo?

por Daniel Martinez de Oliveira

 

Temos ouvido muito a palavra “fascismo”, que tem estado em voga, sobretudo, desde o último período eleitoral. Mas você sabe o que significa fascismo?

O termo é originário do vocábulo latino fasces, que remetia, na Roma Antiga, a um feixe de varas, um símbolo de união em torno de um poder comum. A terminação derivou, em italiano, para fascio e foi apropriada por um movimento político autoritário surgido na Itália, que ficou conhecido como Fascismo e cuja base se achava nos fasci, grupos políticos e paramilitares.

Se encontrar a etimologia da palavra não é difícil, o mesmo não pode ser dito sobre a tarefa de definir o fascismo. Historiadores, sociólogos, filósofos, cientistas políticos e até psicólogos quebraram a cabeça em busca de uma definição que desse conta das principais características desse fenômeno. Por isso, existem várias abordagens que tentam dar conta de explicá-lo. Uma delas trata do fascismo tal qual ocorreu na Itália, aquele movimento específico, localizado e singular. Uma segunda visão abarca o fascismo como um movimento internacional, presente principalmente na Itália e na Alemanha nazista. Uma terceira e última visão tenta identificar traços comuns de vários movimentos e regimes que se assemelham ao “fascismo histórico” ítalo-alemão, baseado em certas características ideológicas e finalidades políticas comuns.

Como você deve ter percebido, a variedade de visões sobre o fenômeno torna difícil dizer o que é o fascismo de forma genérica. Por isso, os pesquisadores do tema têm-se restringido ao uso do termo “fascismo” para identificar o “fascismo histórico”, ou seja, o fenômeno que tomou forma na Itália de Mussolini e na Alemanha nazista de Hitler, entre o final da Primeira Guerra Mundial e o final da Segunda Guerra Mundial.

Por outro lado, em sentido lato, o uso social e histórico do termo ganhou contornos que extrapolam essa visão acadêmica. Isso permitiu que, no contexto da comunicação comum, o uso de “fascismo” tenha uma acepção simplificada, como tendência ao autoritarismo e ao controle ditatorial. Esta acepção pode ser facilmente encontrada em qualquer dicionário.

Entretanto, em linhas gerais, quais seriam as características do fascismo, como tomou forma na Itália e na Alemanha? Basicamente, atentaríamos para as seguintes questões, referenciadas em Norberto Bobbio*:

(*Pode-se encontrar uma rica discussão do autor, apesar de não muito extensa, no seu Dicionário de Filosofia Política.)

– O monopólio da representação política, em que um partido controla o sistema, com apoio massivo da população;
– Uma ideologia fundada no culto a um chefe, à nação e a uma colaboração entre patrões e empregados, entre capitalistas e operários;
– A oposição ferrenha ao socialismo e ao comunismo;
– A mobilização das massas em prol de uma socialização voltada para a aceitação do sistema;
– O combate às oposições, identificando-as como inimigos da nação e da liberdade;
– Uma comunicação baseada em controle das informações;
– O controle da economia pelo Estado, que continua, porém, a responder a demandas privadas;
– O controle das relações políticas, econômicas e sociais a partir da ideologia do partido.

Poderíamos somar a essas características outros fatores, presentes em definições mais atualizadas sobre o fascismo e o neofascismo, como: o nacionalismo exacerbado, a busca de pretensas tradições do passado, a recriação de um mítico passado glorioso, o culto à virilidade, à masculinidade e à juventude, o combate à ciência, o reacionarismo, o negacionismo ecológico, o uso e o elogio da violência, a militarização das relações políticas e o controle da justiça. Ainda é possível incluir a ideia da relação imediata do governante com o povo, sem a mediação de instituições.

Você já percebeu esses traços e aspectos em algum governo?

 

Daniel é antropólogo, historiador e escritor.

As opiniões contidas não representam a opinião do site; a responsabilidade é do autor da publicação.

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