O show de Arnaldo Antunes na última sexta-feira no Café Concerto do Sesc Quitandinha, como parte do 9º Festival de Inverno Sesc Rio, foi uma apresentação de personalidade. Sem se importar em agradar aos que, porventura, foram esperando um antigo sucesso dos Titãs (ou, quem sabe, um hit dos Tribalistas), o cantor sobe ao palco encarnando, no figurino e nos passos de dança, o “Iê Iê Iê” da aclamada turnê.
Passeando com desenvoltura entre quase todas as faixas de seu mais recente álbum – considerado o quarto melhor de 2009 pela revista Rolling Stone – e de sucessos dos anos 60, Antunes claramente se divertia no palco, sem se importar com o que achariam de seus nada ortodoxos passos de dança.
A consistência com os integrantes da banda – Chico Salem (violão e guitarra), Betão Aguiar (baixo) e Marcelo Jeneci (teclados), somados a Edgard Scandurra na guitarra e Curumim na bateria – era notória. Os solos do ex-guitarrista do Ira! tiveram grande destaque na apresentação.
“Iê Iê Iê”, música de abertura, deu o tom de animação e diversão ao show. “Invejoso”, tema da novela Tempos Modernos, da Rede Globo, e carro-chefe do álbum, foi logo executada no meio da apresentação.
Satisfeito com a resposta do público, o cantor desceu do palco e transitou entre algumas mesas do teatro, lotado. O encantamento do espetáculo ficou por conta do jogo de luzes, que, com a ajuda de um globo e da fumaça, forneceu o clima intimista para canções como “Longe”.
A apresentação, que deveria ser encerrada com “Aonde Você For”, foi prolongada graças aos pedidos de “mais um” do público. Arnaldo cantou, então, um de seus maiores sucessos – “Socorro” -, e se despediu de Petrópolis com uma bela canção de Adoniran Barbosa, para deleite da parcela do público composta de pessoas acima da meia idade.
Ao final do espetáculo, a sra. Teresa Cartelaime, uma das mais animadas espectadoras, saiu mais que satisfeita. “Foi maravilhoso! A voz dele é perfeita! Acompanho sua carreira e, apesar de meus 65 anos, suas músicas ainda fazem o coração pulsar!”, disse, com visível animação. Os ingressos esgotados provaram que Arnaldo Antunes é famoso – mas os sorrisos estampados no rosto do público que saía do teatro eram prova de que o iê iê iê conquistou os petropolitanos. O pulso ainda pulsa.
Não sei se é irônico, mas é curioso que o Arnaldo aposte em músicas completamente ‘desgarradas’ do passado se o próprio nome da turnê já remonta ao velho “Titãs do Iê Iê Iê”. Bonito isso. Ainda mais trazendo a pérola do Ira!.