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Coluna Literária

[Coluna literária] “Adeus, por enquanto” – Laurie Frankel

A velha máxima que “hoje em dia nada se cria, tudo se copia” pode ser atribuída perfeitamente ao mercado editorial, principalmente no que tange aos livros direcionados ao público feminino.

Aqueles que inovam, seja recaracterizando personagens conhecidos (como Crepúsculo), ou seja com sacanagem aliada ao romantismo (50 tons de cinza), sem entrar no mérito de bom ou mau, acabam criando um filão para muitos outros autores. É só perceber quantos livros com romances sobrenaturais surgiram depois da saga de Stephenie Meyer, quantos prometendo doses cavalares de sexo e romance ocupam as prateleiras dos best-sellers, e quantos surgiram depois de “O segredo”, “O Código da Vinci”, tentando decifrá-los, e por aí vai. Outros autores, buscando ser um pouco mais criativos, pegam um pouquinho daqui e dali para criarem suas histórias, como é o caso de “Adeus, por enquanto”, de Laurie Frankel, cuja própria contracapa já menciona “Um dia”, de David Nichols. Mas não é só o fenômeno de Nichols que influencia fortemente a história; “Uma carta de amor”, de Nicholas Sparks, reforça a melancolia como um xeque-mate para arrematar lágrimas dos leitores.

O que pode ser o diferencial na proposta de Frankelé a parte tecnológica, que tenta dar um aspecto modernizado a uma história de amor que senão fosse esse detalhe, seria tão clichê quanto as outras. No romance, Sam trabalha como programador em uma empresa de relacionamentos e desenvolve o algoritmo perfeito, programado para ligar a pessoa a sua alma gêmea, e é assim que conhece Meredith. O relacionamento está indo muito bem, eles são a prova que o algoritmo funciona, até que Meredith perde sua avó, Livvie, e fica devastada. Para tentar ajudá-la com a perda, Sam desenvolve um novo programa que permite a Meredith ter uma última conversa com Livvie, e para isso, cria uma projeção dela, programada para agir e responder exatamente do modo que ela costumava em vida. Mais uma vez, o programa funciona perfeitamente e então eles abrem um negócio para ajudar as pessoas enlutadas.

Interessante, não? Teria achado até genial senão tivesse visto a mesma coisa num episódio de Black Mirror, cuja premissa é exatamente a mesma.

O livro não é exatamente ruim, entretém e passa bem o tempo, mas falta autenticidade. Apelar para o sentimentalismo exacerbado e uma crítica velada ao “isolamento causado pelas redes sociais”, para mim, já são assuntos muito batidos e não é a junção de ambos na mesma narrativa que faz a diferença.

Também não pude deixar de ter a impressão, que não sabendo como concluir a história, porque não havia mais o que ser dito, Laurie Frankel simplesmente apela para chavões típicos de autoajuda, com pretensões filosóficas ao falar do sentido da vida, e encerra até com uma “moral da história”, do tipo: “saia da internet e viva sua vida”.

Em suma, a pretensão de ser profundo teve o efeito  justamente contrário.

Marianne Wilbert

Jornalista, pós-graduada em mídias digitais.
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