O assunto é polêmico e envolve uma série de incidentes pelo país. A cena do trote incomoda não apenas os alunos que são envolvidos na suposta “brincadeira”, mas também os familiares que temem pela falta de segurança. Após vivenciar alguns momentos desagradáveis envolvendo os veteranos e os ingressantes do curso de Medicina, a Faculdade de Medicina de Petrópolis (FMP/Fase) estabeleceu sanções mais rígidas que serão adotadas caso ocorra o trote, dentro ou fora das dependências acadêmicas.
“O documento é um recado explícito de que aplicaremos a devida punição junto aqueles que resolverem insistir nesse ato desprezível que é se divertir às custas do exercício da violência moral, mental e física sobre os outros”, explicou Paulo Sá, coordenador do curso de Medicina da FMP/Fase.
O documento desenvolvido pela comunidade acadêmica apresenta a nova resolução aprovada pelo CONSUP (Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão) da FMP/Fase e regulamenta sanções mais rígidas, tipificando o trote. No próximo dia 31 de julho, os novos alunos do curso de Medicina serão recepcionados através de atividades de acolhimento realizadas pelo Núcleo Pedagógico da instituição, que incluem a participação da Direção, Coordenação Geral de Ensino, Coordenações de Cursos e representações estudantis. Na ocasião, o documento referente à prática do trote será apresentado.
“As novas medidas já foram publicadas nos diferentes meios. Como estamos no período de férias, no início do próximo semestre letivo a instituição vai procurar o contato mais pessoal com veteranos para esclarecer esse novo posicionamento, com o objetivo de que não existam dúvidas. A mudança de uma cultura não se faz da noite para o dia e nem por meio da mera publicação de uma norma. Esse é um trabalho contínuo a ser feito pelos próximos anos até que superemos esse estado de consciência precária que se diverte com o constrangimento do outro”, ressaltou o coordenador.
Toda a comunidade interna da faculdade, alunos e familiares receberão informações sobre o novo posicionamento da FMP/Fase em relação ao trote realizado pelos alunos da instituição. O documento apresenta sanções de punição não apenas para os veteranos, mas também para os ingressantes que participarem do trote e para os professores e colaboradores da faculdade que forem coniventes com essa forma de recepção aos alunos.
A FMP/Fase também acredita que, assim como o posicionamento da instituição é de total desaprovação ao trote realizado na cidade, os órgãos públicos, como a Polícia Militar e a CPTrans, precisam se posicionar contrários a essa postura.
“É necessário que toda a comunidade esteja envolvida para finalizar essa prática aberrante falsamente justificada pela cultura da tradição. Pela tradição, ainda seríamos colônia e com escravos. A responsabilização dos funcionários e docentes da instituição, que são formadores de opinião, também estabelece um novo marco nesse processo que antes era apenas voltado para o ingressante. Agora, todos serão responsabilizados, o que compromete a falsa noção do ingressante de que existe uma hierarquia protegida. Esses mecanismos certamente inibirão a participação dos alunos nesses atos”, finalizou Paulo Sá.
A Direção da FMP/Fase já emitiu cartas orientando os alunos e seus familiares sobre a nova resolução acadêmica. A coordenação do curso de Medicina acredita que o ingresso em dois momentos no ano, com alunos iniciando o curso de Medicina em dois semestres, aumenta a chance de manter o assunto em evidência e, assim, fortalecer uma mudança de cultura.
