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Crônicas

O “Dia” do preto e branco nas capas dos jornais

A morte do cinegrafista Santiago Andrade, de 49 anos, ocupou hoje as capas de todos os jornais. Ele vem sendo o assunto principal de todos os tipos de mídias no mundo inteiro, desde que foi atingido na cabeça por um rojão, na quinta-feira, quando registrava um protesto contra o aumento da passagem no Rio de Janeiro. O cinegrafista teve a morte cerebral anunciada ontem.

Hoje a capa do jornal O Dia expressou em preto e branco o luto com um simples depoimento da filha de Santiago, Vanessa Andrade, de 29 anos, que também é jornalista. Na manchete “Um crime contra a democracia”. No texto, Vanessa conta como foi a despedida entre ela e o pai no hospital. “Ele estava quentinho e sereno. Éramos só nós dois, pai e filha, na despedida mais linda que eu poderia ter”. Pegando carona no ditado popular “Um olhar vale mais que mil palavras”, é preciso de pouco para transmitir o sentimento de luto e indignação do jornal, da família, da sociedade.

Nós jornalistas, sabemos o quanto a capa é importante para vender o jornal. Ela é a porta de entrada, é onde o leitor vê aquele assunto que o interessa e compra. A capa do Dia de hoje, foi extremamente simples, mas o suficiente para comover um leitor, para chamar sua atenção e para fazê-lo levar o jornal para casa. Ela conseguiu transmitir com sutileza e expressando a realidade, a dor de perder um pai, um colega de trabalho, um cidadão honesto, um homem com 20 anos de profissão,  um brasileiro que conquistou dois prêmios pelo seu trabalho.

O jornal Extra também pegou carona na ideia e lançou a capa de hoje em preto e branco. A manchete do Globo, embora de maneira tradicional, fez questão de dar destaque a morte do cinegrafista. Até o Diário de Petrópolis falou sobre o assunto na capa.

William Bonner no Jornal Nacional de ontem fez um discurso emocionante, entoado por sua voz marcante. “Sem cidadãos informados não tem democracia…/ Foi uma atitude autoritária porque atacou a liberdade de expressão e foi uma atitude suicida, porque sem os jornalistas profissionais, a nação não tem como tomar conhecimento amplo das manifestações que promove… / A violência é condenável sempre, venha de onde vier. Ela pode atingir um manifestante, um policial, um cidadão que está na rua e que não tem nada tem a ver com a manifestação. E pode atingir os jornalistas, que são os olhos e os ouvidos da sociedade. Toda vez que isso acontece, a sociedade perde, porque a violência resulta num cerceamento à liberdade de imprensa…”.

foto (4)Jornais em preto e branco
Há pouco tempo, lendo o livro “70 lições de jornalismo”, de Roberto Hirao, me deparei com a história de uma capa de jornal em preto e branco. Era a Folha da Tarde de 15 de agosto de 1992. Ao contrário da data de hoje em que expressava o luto e a indignação pela morte de um profissional, a capa da Folha da Tarde tratava do “Preto do luto e da vergonha”, para se contrapor ao verde e amarelo que o presidente Collor invocou dias antes.

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