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Coluna Literária

[Coluna literária] “A culpa é das estrelas” – John Green

Foto: Melina Souza

Prestes a estrear nos cinemas, “A culpa é das estrelas”, de John Green, tem arrancando lágrimas de crianças, adolescentes e adultos por todo o mundo.

Para quem só tem ouvido falar, mas ainda não sabe do que a história se trata, eis um breve resumo: dois adolescentes se conhecem em um Grupo de Apoio para Crianças com Câncer: Hazel, uma jovem de 16 anos que sobrevive graças a uma droga revolucionária que detém a metástase em seus pulmões, e Augustus Waters, de 17, ex-jogador de basquete que perdeu a perna para o osteosarcoma. Como Hazel, Gus é inteligente, tem ótimo senso de humor e gosta de brincar com os clichês do mundo do câncer – a principal arma dos dois para enfrentar a doença.

A personagem Hazel Grace foi baseada em Esther* (que significa “estrela” em persa) Grace, amiga de Green que passou parte de sua vida batalhando contra o câncer. Em entrevista, o autor comentou quão difícil foi escrever essa história – “Foi difícil porque eu estava triste. Triste e, francamente, com muita raiva. Isso porque Esther havia morrido, e muitas crianças morriam todos os dias por falta de comida e remédio. Isso começou a consumir minha escrita. Então, enquanto eu queria que o livro fosse engraçado, a pessoa que escrevia estava com muita dor. Porém, escrever pode ser difícil, mas é mais fácil do que 99% dos outros trabalhos. Não é uma tortura ou algo do tipo.”

Quando o personagem de uma história tem câncer, normalmente o desenrolar mostra as dificuldades impostas pela doença, além da associação da velha ideia, difundida exaustivamente, de “carpe diem”. Assim, ao receber um diagnóstico que lhe dá pouco tempo de vida, ele começa a “viver pela primeira vez” e a dar valor às pequenas coisas, etc. Porém, ao contrário do que se possa imaginar, “A culpa é das estrelas” não é sobre o câncer, a narrativa assume um tom melancólico com um toque de humor, que pode levar tanto ao riso, quanto às lágrimas, assim como à reflexão também, como em pedaços como este:

“Vai chegar um dia em que todos vamos estar mortos. Todos nós. Vai chegar um dia em que não vai sobrar nenhum ser humano sequer para lembrar que alguém já existiu ou que nossa espécie fez qualquer coisa nesse mundo. Não vai sobrar ninguém para se lembrar de Aristóteles ou de Cleópatra, quanto mais de você. Tudo o que fizemos, construímos, escrevemos, pensamos e descobrimos vai ser esquecido e tudo isso aqui vai ter sido inútil. Pode ser que esse dia chegue logo e pode ser que demore milhões de anos, mas, mesmo que o mundo sobreviva a uma explosão do Sol, não vamos viver para sempre. Houve um tempo antes do surgimento da consciência nos organismos vivos, e vai haver outro depois. E se a inevitabilidade do esquecimento humano preocupa você, sugiro que deixe esse assunto para lá. Deus sabe que é isso que todo mundo faz.”

Embora o tema não seja leve, John Green não apela para um dramalhão e no decorrer da leitura, ainda faz referências a poemas como Nothing gold can stay, de Robert Frost, até à hierarquização de necessidades de Maslow, tornando a leitura mais rica, traço este já bem característico de suas obras.

Sou suspeita para falar, mas é um livro que recomendaria a todos, pois é  uma bela história, muito bem contada, que fica na gente durante um bom tempo depois do término da leitura, deixando um gostinho agridoce, algumas lágrimas, e um sorriso no canto da boca.

 

*Quem quiser saber mais sobre a história de Esther pode ler “A estrela que nunca vai se apagar’”

Marianne Wilbert

Jornalista, pós-graduada em mídias digitais.
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