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Coluna Literária

[Coluna literária] “Uma longa queda” – Nick Hornby

Suicídio. Calma, não se trata de um livro para cortar os pulsos, com o perdão do trocadilho. Mas de fato, é este o tema condutor da obra de Nick Hornby, autor de “Alta Fidelidade” e “Febre de bola”.

A história começa numa noite de ano novo. Afinal, esta data costuma trazer consigo um pouco de melancolia, já que é inevitável que façamos uma retrospectiva do ano, colocando na balança o que gostaríamos de ter feito e o que de fato fizemos. Também nos pegamos pensando em conclusões, páginas viradas, o que pode acabar causando uma certa tristeza, que uns acham tão insuportável, que cogitam até a hipótese do suicídio. Pelo menos é assim que Jess, JJ, Maureen e Martin se sentem na noite de Ano Novo e, por isso, resolvem pular de um prédio de Londres.

Ao que tudo indica, se os quatro se matassem, não fariam muita falta para ninguém. Martin é um apresentador de TV que teve sua vida arruinada quando foi preso por pedofilia. Maureen é sozinha no mundo e sua única companhia é um filho em estado vegetativo, a quem ela dedica seus cuidados diariamente desde que ele nasceu. Jess é uma adolescente impulsiva e completamente problemática. Já JJ é um músico fracassado que não sabe lidar com o fim de sua banda e o término de seu namoro. Aparentemente, a única coisa que eles tem em comum é o fato de terem ido para o alto do Topper’s House para se matar.

Embora o livro não tenha a pretensão de ser edificante, ainda assim fica a ideia já eternizada por Saint-Exupéry de que “cada um que passa na nossa vida, passa sozinho, mas não vai só nem nos deixa sós. Leva um pouco de nós mesmos, deixa um pouco de si…”, já que cada um impacta a vida do outro, formando um grupo inusitado e estranhamente unido, como diz Jess:

“E o que me dei conta, então, foi que eu tinha evoluído um monte desde a noite de Ano Novo. Tinha crescido como pessoa. O que me fez pensar que nossa história estava meio que chegando ao fim, e que seria um final feliz. Porque eu tinha crescido como pessoa, e a gente estava num momento de começar a resolver os problemas uns dos outros, e não só ficar sentado se lamuriando. É quando as histórias costumam terminar, né? Quando as pessoas mostram que aprenderam coisas e problemas são resolvidos.”

Hornby toca em assuntos delicados e até filosóficos (?), através de diálogos que de tão absurdos, ridicularizam justamente toda uma pretensão de ser “profundo”, como pode ser esperado de um livro que trata de um assunto pesado como o suicídio.

E o final? Bom, no final ele consegue mostrar com maestria que para um livro ser bom, ele não precisa de um final feliz onde todos os problemas somem e os personagens vivem felizes para sempre. Até porque ninguém é eterno e a vida está longe de ser um conto de fadas…

“É esse o problema com os jovens de hoje, certo? Passam a vida vendo finais felizes na tevê. Tudo pede um fim, com sorrisos, lágrimas e acenos. Todos tiveram algum aprendizado, encontraram o amor, se deram conta de seus erros, descobriram as delícias da monogamia, da paternidade, do dever filial, ou da vida em si.”

Ah! E o livro foi adaptado para o cinema trazendo Pierce Brosnan, Aaron Paul (o Jesse de Breaking Bad), Rosamund Pike e Imogen Poots no elenco, confira o trailer:

Marianne Wilbert

Jornalista, pós-graduada em mídias digitais.
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