Publicidade Concer: Passarelas
Publicidade Concer: Passarelas
Coluna Literária

[Coluna literária] “A Estrela” – Jennifer duBois

Se em “O Processo”, de Kafka, ficamos agoniados do início ao fim ao acompanharmos o julgamento de um homem que não sabe pelo o quê está sendo julgado, em “A Estrela”, a tensão se dá pela incerteza quanto à culpabilidade da personagem.

DuBois narra sob o ponto de vista da acusada (Lily Hayes), do promotor (Eduardo Campos), do “namorado” de Lily (Sebastien LeCompte) e seus pais. Baseado no caso real de Amanda Knox, “A Estrela” conta a história de uma jovem norte-americana que é presa na Argentina, acusada de ter matado sua colega de quarto.

Se as evidências apontam para ela e dão uma história plausível para a promotoria, paira a questão do “porquê”, que no fundo, acaba não sendo tão importante quando já se tem um caso montado. Para a mídia, que tende a ser favorável à promotoria em casos como esse, o que importa é ter um culpado, uma “assassina em potencial”, que acaba tendo sua vida completamente esmiuçada e exposta ao mundo, onde uma simples ação na infância acaba vindo à tona e se tornando um “indicador de um homicídio futuro”, tudo para saciar um público com sangue nos olhos, ávidos por justiça.

As atitudes de Lily também não contribuem muito para sua causa, já que ela deu uma estrela (daí o nome do livro) após ser questionada pela polícia, durante as investigações do homicídio. Essa e outras ações, aparentemente inofensivas, vão se somando às histórias divulgadas pela mídia e contribuindo para criar uma imagem nada favorável perante ao grande público.

No entanto, o que mais chama a atenção é que a autora consegue manter a dúvida o tempo todo, sem ser tendenciosa em nenhum momento. Baseada nas evidências encontradas pela polícia, são apresentadas versões do que pode ter acontecido na noite do homicídio que se encaixam na história de Lily e na de um outro personagem, também suspeito, que surge mais para frente.

“Para mim, a barreira ficcional em torno dos personagens deste livro não é apenas um pré-requisito para tentar (ou mesmo querer) escrever um romance sobre a falibilidade das percepções – ela é também fundamental para minha noção das possibilidades éticas da ficção no mundo. Portanto, é como pessoa, ainda mais do que como escritora, que peço aos leitores que não tenham dúvidas quanto à personagem central desta história. No universo real existe uma garota que nunca deu uma estrela. Este romance é a história de uma garota que deu.” –  nota da autora.

Para quem se interessa por casos de homicídio de grande repercussão e curte perscrutar os envolvidos, “A Estrela” é um prato cheio.

Marianne Wilbert

Jornalista, pós-graduada em mídias digitais.
Botão Voltar ao topo
error: Favor não reproduzir o conteúdo do AeP sem autorização ([email protected]).