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[Para & Pensa] Inteligência e evolução

por Daniel Martinez de Oliveira

Hoje é praticamente consenso entre os antropólogos que o ser humano não é o único detentor de inteligência, e que a inteligência não se organiza de forma exclusivamente igual à humana. Esta afirmativa não se restringe aos animais mais desenvolvidos, já que há espécies de insetos e de peixes que mantêm um modo de vida e uma organização social inteligentes. Além disso, certos primatas superiores são capazes de desenvolver linguagem, dominar uma estrutura simbólica básica e resolver exercícios simples de lógica.

A inteligência é um produto da evolução e de longos processos de testar e melhorar, fato que pode ser percebido a partir dos estudos de ferramentas de nossos ancestrais mais próximos, chamados de hominídeos. O incremento das técnicas de construção de ferramentas e outros artefatos pode ter influenciado o desenvolvimento da linguagem, assim como o desenvolvimento do comportamento dos humanos, em sua história evolutiva.

Na mesma medida, o pensamento e a linguagem estão conectados pela própria organização do nosso cérebro e do nosso corpo. Esse aspecto evolutivo também está presente na formação da pessoa adulta nos nossos dias. Todos sabemos que a criança passa por várias fases diferentes de desenvolvimento cognitivo. Há também uma marcada correspondência entre o uso de ferramentas e o aparecimento da linguagem falada, que costumam surgir, ao mesmo tempo, entre um ano e meio e dois anos de idade.

Ferramentas e o cérebro podem ser vistos, dessa forma, como resultados de um longo processo evolutivo. E podemos pensar na inteligência como: 1) o acúmulo de conhecimento no decorrer de centenas de milhares de anos de seleção natural; 2) a capacidade para inovar e solucionar problemas.

Mas, ainda que todos tenhamos as mesmas capacidades e potencialidades para criar e solucionar problemas, nem sempre existe a chance de desenvolvê-las, porque nossos conhecimentos herdados muitas vezes não estão ao nosso alcance, ou podem ser controlados por nós. Mesmo a língua que usamos não é homogênea. Uma língua é falada por uma comunidade linguística, mas cada indivíduo portador deste conhecimento apresenta uma linguagem cheia de particularidades e repleta de influência dos fatores experienciais e sociais.

Isso quer dizer que, mesmo que nossos corpos e cérebros sejam iguais, a maneira como os utilizamos se expressa culturalmente. A modelagem que damos às nossas formas de pensar está diretamente ligada ao meio cultural em que a inteligência individual se desenvolve e evolui.

 

Daniel Martinez de OliveiraDaniel Martinez de Oliveira é graduado em história e mestre em antropologia pela UFF, onde também faz seu doutorado. Realizou pesquisas sobre a Umbanda, o Santo Daime e o Caminho de Santiago. É antropólogo e historiador do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) e administrador substituto do Palácio Rio Negro (Petrópolis). Além de ser professor universitário, deu aulas de espanhol por mais de dez anos. Nascido e criado em Nova Friburgo, após três anos de trabalho no Museu de Arqueologia de Itaipu, em Niterói, adotou Petrópolis para trabalhar e viver com a família. É mochileiro de carteirinha e adora ler e escrever poesias.

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