por Rafael Studart
Navegamos por milhas esperando encontrar algo quando finalmente um punhado de terra se assoma em nossa luneta. Reduzimos velocidade, baixamos vela, lançamos âncora para podermos saltar e pisar em terra firme.
Depois de uma longa e solitária jornada, tiramos nossos calçados, sentimos a areia fofa e úmida da praia massageando nossos pés e o sol iluminando nossos rostos. A brisa suave chega amenizando qualquer resquício de desconforto que ainda pudesse haver naquela experiência de descoberta veranil. Novidades e mistérios recobrem essa terra que começamos a adentrar.
Nosso deslumbramento inicial transforma-se em vontade de explorar, conhecer, mapear. Queremos ver o que tem dentro, quais são as maravilhas e perigos que esse lugar incrível pode nos oferecer. Pouco caso fazemos da praia paradisíaca e relaxante de antes. Uma bússola imperfeita nos guia rumo às profundezas dessa nova terra, onde forçamos nossos caminhos com peixeiras em punho.
Clareiras são abertas, árvores derrubadas. Lugar pra ficar, lenha pra nos esquentar. Sabemos que haverá noites mais frias pela frente. A linda fauna local enche de viva seu interior, mas também nos serve de alimento. Queremos conhecer você toda. Sacrifícios não importam. Precisamos saber o que essa terra nos reserva, o que tem pra nos oferecer. Andamos tanto que por vezes encontramos tocos queimados, animais chacinados e plantas cortadas. Já passamos por ali? Terra virgem para nós, mas não para todos.
Nessa aventura, tropeçamos em raízes, caímos de cara, somos mordidos, nos cortamos. Terra nenhuma é grande o bastante, mas por menor que a terra seja, em nós sua marca deixa. Há quem se envolva tão fundo que prefere não voltar mais, outros até morrem por lá. Mas a maioria, com os segredos desvendados e cicatrizes colecionadas, volta ao seu barco, levanta âncora, vela e segue, pois navegar é preciso. E onde a terra encontra o mar, as marcas dos nossos últimos passos aguardam apenas a próxima onda mais forte limpar o capacho para os próximos navegantes.
Rafael Studart é comediante, roteirista e professor universitário de física. Mestre pela COPPE/UFRJ, costuma tentar algo novo com uma certa frequência. Se quiser falar sobre relacionamento e sexo com ele, pode pará-lo na rua. Facebook: http://www.facebook.com/studart7
Leia outras colunas de Rafael Studart:
[Na mente de um Strudel] Feliz Aniversário
