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[Na mente de um Strudel] Kari’oka

por Rafael Studart

Não conheço ninguém de Cuiabá, Macapá, Boa Vista, nem mesmo Vila Velha; isso só pra citar um punhado do Brasil. Se fosse para o mundo, precisaria de 12 laudas terminando com etcétera. Mas, mesmo assim, quem eu menos conheço é o carioca. Mesmo tendo nascido, e morando, no Rio.

Quem é esse habitante que vive na casa ao lado, aperta o T no elevador que me deixa no P, compra brioche na padaria que pedi pão francês, tira selfies com o mar que mergulhei, dirige nas ruas que sambei e brada anestesiado no Maraca que delirei? Quem é você, carioca? Te conheci em tempos de Calcanhotto, mas agora ando confuso tentando te entender e te explicar para os outros.

Qual o motivo da sua amargura? Violência, má administração, trânsito, corrupção… Em nosso dia a dia, o cinismo se faz companheiro. O sorriso no rosto tão descartável quanto aquele copinho de “carioca”, justamente o mais suave dos cafés. A cidade mais incrível do planeta com o povo mais descolado, diria o disléxico ao ler “deslocado”.

Horrível disparidade favorecida pela linda natureza. Esse é o Rio de ninguém. Que nem maiúscula merece mais. Deixou de ser nome próprio pra virar verbo, do tipo que é melhor conjugar para não chorar, porque se chorar muito deságua em substantivo, alagando de vez nossas esperanças.

Ladrilhamos fotos do Rio antigo pelos cantos de nossa cidade e, com gostosa nostalgia, contemplamos o que sobrou dela: frações de segundo de lembranças de outra época. Ironia perceber que o passado em preto e branco tem mais colorido que nosso presente cinza.

Rio que é rio corta, cria, molha, desenha, seca, desgasta, transborda, mas nunca é igual. Janeiro, seu dono, tá aí, sempre a recomeçar, seguido de fevereiro para purificar, e março, para com suas águas o verão fechar, deixando de vez o amor de abril chegar e, na oka dos karis, mais uma vez reinar. Assim, pelo menos, um velho carioca gostaria de sonhar.

 

 

studartRafael Studart é comediante, roteirista e professor universitário de física. Mestre pela COPPE/UFRJ, costuma tentar algo novo com uma certa frequência. Se quiser falar sobre relacionamento e sexo com ele, pode pará-lo na rua. Facebook: http://www.facebook.com/studart7

 

 

 

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