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[Coluna] Resistência operária à ditadura militar em Petrópolis – 1

por Eduardo Stotz, presidente da CMV

Após a repressão desencadeada contra o movimento sindical – com prisões, torturas, perseguições e humilhações durante os anos de 1964 a 1965 – os operários retomam suas lutas. Praticamente defensivas, pelo pagamento de salários atrasados e direitos descumpridos pelos patrões, refletindo a continuidade da crise econômica desencadeada em 1962 e que se aprofunda com a política econômica da ditadura militar, são greves que alcançam dimensões maiores como no caso da greve geral dos operários da Companhia de Tecidos Petropolitana, de caráter legal, ocorrida entre 1966 e 1967.

A relevância das causas do movimento operário é reconhecida, em documentos de circulação interna, pela polícia política e seus informantes. Sob o título “Articulação comunista no Estado do Rio de Janeiro”, Informe no. 245 SNI-ARJ, de 12 de março de 1965, a Agência RJ do Serviço Nacional de Informação dá crédito à informação, “de fonte idônea”, da rearticulação comunista nos sindicatos do Estado do Rio de Janeiro, No final do informe secreto transcrito registra-se a observação sobre a responsabilidade patronal cujas medidas só servem para irritar os trabalhadores, jogando-os contra as Juntas [interventoras nos sindicatos], fazendo com que eles vivam sonhando com a volta ao passado [isto é, em fazer greves]. Mencionam-se os casos dos estaleiros, das usinas de açúcar, das fábricas de tecidos. Avulta, neste último ramo, o caso da América Fabril que em sua unidade de Inhomirim (Magé), deixara de fazer descontos das mensalidades do Sindicato, em folha […] apenas visando desacreditar a Junta, alegando, inclusive, que não existe mais Sindicatos no País.

O informe capta o clima de revolta entre os operários que, logo depois, explode. Em 26 de março de 1966, na matéria “América Fabril vai pagar operários”, o jornal Diário de Petrópolis dá conhecimento de um confronto entre operários e policiais, com vários feridos em ambos os lados. A notícia traz a informação acerca de cinco soldados e quatro investigadores feridos, sendo três da Polícia Política. Do lado dos operários, 18 encontram-se presos em Niterói.

Pouco depois uma situação semelhante acontece na Companhia Petropolitana. A matéria “Princípio de greve em Cascatinha” (Diário de Petrópolis, 07 de junho de 1966) informa sobre a paralisação das atividades da fábrica em decorrência da suspensão de um empregado. A Rádio Patrulha, apesar de chamada a intervir, não pode agir devido à ação dos operários. Com a chegada do reforço e da polícia civil, inclusive do chefe do DOPS, Wilson Madeira, a situação poderia ter evoluído para o confronto não fosse a mediação do comissário Milton Moraes, aceitando os operários a retomar o trabalho. Ainda assim, dois policiais permanecem lá a postos para prevenir qualquer ato de violência contra o Gerente da Fábrica.

Ainda nesse ano consta na documentação da polícia política (Secretaria de Segurança Pública/DA/Processo no. 2257, relativo ao exercício de 1967) o registro de uma paralisação da Petrópolis Confecções S.A. e Indaiá Modas S.A.: No ano de 1966, houve na confecção um movimento grevista, promovido pelas operárias, que ameaçavam depredar os vidros e máquinas por atraso de pagamento.

O processo avança no ano seguinte, com reclamações apresentadas pelo advogado Wagner Rodrigues sobre demissões, coação e perseguições da “polícia feminina”, bem como de denúncias de máquinas sendo retiradas pela empresa à noite. O assunto será objeto de próximo artigo da coluna “Memória e Verdade”.

(Imagem: Greve na Lonaflex, ocorrida em julho de 1968, disponibilizada no site da Câmara dos Vereadores de Osasco)

A Comissão é formada por: Eduardo Stotz – sociólogo e historiador, pesquisador da Fiocruz; Glauber de Oliveira Montes – historiador e professor; João Fabre dos Reis – advogado trabalhista; Maria Helena Arrochellas – teóloga e coordenadora do Centro Alceu Amoroso Lima para a Liberdade; Rafane Valoura Paixão – historiadora e Roberto Schiffler Neto – sociólogo e professor.

Endereço e acesso: Prefeitura Municipal de Petrópolis – Avenida Koeler, 260 – Centro – Petrópolis – RJ – Tel.: (24) 2246-9325. Facebook.com/cmvpetropolis – [email protected]

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