por Rafael Studart
O trecho a seguir foi retirado de um livro de introdução à química de meados do século XX.
Um grande bang nos espalhou por tudo que é canto. Elementos flutuando ao acaso nesse espaço infinito, fazendo ligações com outros em busca de propósito; novos compostos sendo produzidos como consequência.
Tudo pode acontecer quando um encontro ocorre, dependendo, obviamente, da afinidade entre as partes envolvidas. Quem cede, quem ganha. Ligações simples, duplas, triplas.
Nada está livre do caos que cerca o universo. Combinações químicas podem continuar a vagar pelo vazio do breu, ou esbarrar em outros compostos. Novas misturas são capazes de gerar reações imprevisíveis. Liberando calor, ou não. Produzindo ácidos corrosivos, ou sais básicos.
Acrescentar elementos da mesma família de qualquer um dos que compõem a mistura pode alterar o equilíbrio das substâncias, criando novas ligações, ou enfraquecendo as já existentes. Tal comportamento também é observado com os da mesma série, ou que já possuíam prévia afinidade.
Mesmo o tempo de existência de uma partícula afeta composições que a envolvam, uma vez que ela pode vir mais, ou menos, carregada, graças a reações químicas anteriores.
As intempéries externas são muitas para que um composto mantenha-se em sua forma original. Mesmo sólido no início, por vezes, nota-se uma liquefação repentina, podendo, inclusive, pular essa etapa direto para o estado gasoso, no processo conhecido como sublimação.
Por fim, é importante destacar que parte das composições emite um brilho sem igual, mas uma fração desta justifica-se pela radioatividade. Portanto, lidar com tais compostos é tarefa de extremo cuidado e atenção, de preferência mantendo-os a uma distância segura e longe de terceiros, para evitar contaminação. Aconselha-se esperar o tempo de vida da substância passar até que seja possível uma nova aproximação para com os elementos que a compõem.
A alquimia humana carece da exatidão das ciências químicas. Mas tal inconstância e imprevisibilidade está na dificuldade de identificar todas as infinitas variáveis que podem alterar a combinação inicial das composições possíveis. Assim, nos mantemos químicos desatentos de nós mesmos, meros observadores de misturas que se desfazem e explodem em nossas caras sem que entendamos o que dá vida a essa estranha matéria.
Foto: reprodução AAS Nova.org
Rafael Studart é comediante, roteirista e professor universitário de física. Mestre pela COPPE/UFRJ, costuma tentar algo novo com uma certa frequência. Se quiser falar sobre relacionamento e sexo com ele, pode pará-lo na rua. Facebook: http://www.facebook.com/studart7
Leia outras colunas de Rafael Studart:
[Na mente de um Strudel] Ali no canto
