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Coluna Literária

[Coluna literária] “A verdade sobre o caso Harry Quebert” – Joël Dicker

Bloqueio criativo: esse é o pior pesadelo de qualquer escritor. Principalmente de um que fez um sucesso estrondoso com seu primeiro livro e cuja expectativa para um segundo é muito grande. A pressão da editora, do público, da imprensa…todos esses fatores acabam atrapalhando o processo criativo de uma obra subsequente. Marcus Goldman está estagnado.

A convite de seu antigo professor e mentor Harry Quebert, Marcus vai a Aurora, uma pacata cidade de New Hampshire, para ver se a tranquilidade do local o inspira a escrever alguma coisa. Mas tudo muda quando encontram o corpo de uma menina de 15 anos, que estava desaparecida desde 1975, no quintal de Harry Quebert e ele vai preso. É então que para provar a inocência de seu amigo, Goldman começa a investigar essa história, que também acaba se tornando o seu mais novo livro.

Numa narrativa que lembra um pouco A sangue frio, de Truman Capote (devido ao envolvimento do escritor com o assassinato), logo descobrimos que Harry teve um relacionamento com a vítima em questão, quando ele tinha 34 anos. Durante toda a narrativa somos levados a crer que eles viveram uma grande história de amor, o que acaba não sendo convincente não só pelas partes melosas (com diálogos piegas do tipo “não posso viver sem você, não me deixe”) que forçam a barra, mas principalmente porque é muito difícil despertar a empatia do público quando estamos falando de um caso entre uma menina de 15 anos e um homem quase 20 anos mais velho. Mas mesmo com esse porém (que na verdade não chega a ser um problema), ainda assim ficamos vidrados a cada página ansiando para saber aonde isso tudo vai levar.

As mais de 560 páginas permitem que o autor se aprofunde no passado de cada personagem, revelando episódios de anos anteriores que explicam certas atitudes e dão margem à futuras revelações. Algumas partes são dispensáveis e parecem que estão ali só para dar volume, mas de certa forma tudo acaba sendo uma peça de um grande quebra-cabeça que começa a se encaixar quando menos se espera.

A cada capítulo, um plot twist, o que é sempre algo positivo, mas confesso que achei exagerada a sequência de reviravoltas no final, porque são MUITAS e tanta “revelação” antecipada deixa óbvio que vai ser desmentida logo em poucas páginas, o que acaba tirando o impacto do desfecho e da explicação final. Contudo, eu me arrisco a dizer que a investigação do livro é o menos interessante da obra, que cativa mais pela construção dos personagens e as relações entre os moradores de Aurora.

Outro aspecto bastante interessante é que no início de cada capítulo há uma breve lição de “como escrever um livro”, seguida da imagem de uma folha em branco que vai sendo preenchida e mostra o progresso do próprio Marcus Goldman ao escrever o seu livro.

Joël Dicker também mostra seu senso de humor nos diálogos entre a mãe de Marcus e o filho, que é aquele tipo de mãe que adora uma fofoca, acredita em tudo em que lhe contam e está louca para que o filho case logo e lhe dê netos.

Em suma, o livro fala sobre relacionamentos, solidão, a pressão na vida dos autores, vidas marcadas por segredos, o que as pessoas são capazes e fazer para proteger quem amam, medo, loucura, melancolia e conformismo, tudo isso envolvido numa aura de mistério que vai deixar inquieto até o leitor mais tranquilo. Vale muito a leitura!

Obs.: o livro será adaptado para televisão no formato de uma série de 10 capítulos, estrelada por Patrick Dempsey.

Marianne Wilbert

Jornalista, pós-graduada em mídias digitais.
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