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Coluna Literária

[Coluna literária] “a imortalidade” – Milan Kundera

Difícil falar de um livro que não tem uma sinopse propriamente dita e cuja tentativa de comentá-lo vai, inevitavelmente, soar simplista diante do que nos é apresentado no decorrer da leitura. Talvez seja por isso que Milan Kundera seja tão celebrado. Com diálogos simples, porém, hábeis e muito reflexivos, o autor discorre sobre atitudes relacionadas ao amor, o acaso, a morte, entre outros aspectos que permeiam a vida, como nossas tentativas para que não sejamos esquecidos.

Dividido em sete partes, em “O rosto”, Kundera apresenta sua personagem Agnès, que surge através de um gesto que uma mulher faz para seu professor de natação ao sair da piscina. “Graças a este gesto, no espaço de um segundo, uma essência de seu encanto, que não dependia do tempo, revelava-se e me encantava. Fiquei estranhamente comovido. E o nome Agnès surgiu em meu espírito. Agnès. Nunca conheci uma mulher com esse nome.”

Na parte II, que leva o nome da obra, o autor foca na relação de Bettina von Arnin com Goethe, que nunca chegou a virar um romance, mas não por falta de tentativas dela. Neste pedaço, Milan chega até a imaginar um diálogo entre Goethe e Hemingway, resolvendo juntá-los justamente por não terem nada em comum, surgindo então um diálogo brilhante sobre o “fardo de não cair no esquecimento”. Veja um pedacinho abaixo:

“- (…) O que mais você imaginou, Ernest?

– Não imaginei nada. Esperava apenas que depois da morte viveria um pouco tranquilo.

-Você fez tudo para tornar-se imortal.

-Bobagem. Apenas escrevia livros.

-Exatamente!, exclamou Goethe.”

Já em “A luta”, parte III, conhecemos um pouco mais sobre Laura, irmã de Agnès, sua vida amorosa, e somos apresentados a outros personagens que terão destaque ao longo da obra. Em “Homem sentimentalis”, o caso de Bettina e Goethe volta a ser abordado e se relaciona com a história de Laura e Paul, marido de Agnès por quem Laura sempre nutriu sentimentos. Além disso, também temos mais um ótimo diálogo entre Hemingway e Goethe, que desta vez se encontram no céu.

Em “O acaso”, todos os personagens já apresentados voltam a ter seu espaço, em momentos distintos, já que em “O mostrador”, conhecemos a história do último personagem, que teve um papel importante na narrativa, mas só nos damos conta neste ponto, quase no final.

Já “A celebração” é o desfecho da história, onde compreendemos as atitudes de todos os personagens e como elas se encaixam perfeitamente, dando a sensação gratificante de que acabamos de ler um grande livro.

Basicamente, apresentei o esboço do livro, pois seu conteúdo transcende qualquer tentativa de defini-lo. Mais uma grande obra de Kundera para se encantar, pensar e refletir bastante!

“Viver, não existe nisso nenhuma felicidade. Viver: carregar pelo mundo seu eu doloroso. Mas ser, ser é felicidade. Ser: transformar-se em fonte, bacia de pedra na qual o universo cai como uma chuva morna.”

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Marianne Wilbert

Jornalista, pós-graduada em mídias digitais.
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